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sexta-feira, 13 de julho de 2007

O POLVO (6ª Parte)

Continuação

”(...) O seu primeiro negócio foi com um clube francês (Matra Racing de Paris) cujo Treinador (Artosco Jorge) já tinha passado pelo clube de GC. -Temos de realizar dinheiro, porque as coisas não estão muito boas. As empresas que tenho montado têm dado uma grande barraca e levam-me o dinheiro todo. Temos o Jorge Palácido para vender a um clube francês. Luigiano D´Onofrio arregalou os olhos e disse com espanto: -Mas, presidente, esse jogador não tem cotação europeia. -Não se preocupe com isso, porque quem lá está vai querê-lo. D´Onofrio, ainda sem acreditar no que ouvia, apesar de toda a sua experiência no mundo das vigarices, perguntou: -Como vai ser feito o negócio? -O nosso clube vende o Palácido à nossa empresa por 60 mil contos e nós vendemo-lo ao clube francês por 160 mil contos. -Desses negócios é que eu gosto. Ganhamos mais que o clube. -Tenho que dar uma volta à minha vida e começar a ganhar dinheiro, porque o que já perdi não foi pouco. No futebol é que está o nosso grande negócio. Luigiano D´Onofrio arregalou os olhos e pensou de imediato em ir um pouco mais adiante, mas resolveu não falar disso com o presidente. Preferia colocar o problema a Reginaldo Teles, que era um elemento mais acessível para as situações de ilegalidade.Logo que pôde, encontrou-se com Reginaldo Teles e convenceu-o a falar com o presidente. -Reginaldo, temos um negócio que dá dinheiro que se farta, mas tens de ser tu a falar disso ao presidente. Reginaldo olhou-o pensativo, mas lá acabou por se decidir. -Não venhas com tangas p´ra mim. Diz lá que o que queres que proponha ao presidente. -Tenho feito aí uns negócios com cocaína e nem imaginas o lucro que isso dá. -Estás maluco. Pensas que o presidente vai numa coisa dessas? -As coisas estão más e é necessário realizar dinheiro. Com a protecção que o futebol dá, podemos trabalhar à vontade. Reginaldo Teles convenceu-se de que, de facto, havia alguma razão nas palavras de Luigiano D´Onofrio e comprometeu-se a falar com o presidente sobre o assunto. Galo da Costa ouviu atentamente Reginaldo e mandou-o avançar com a ideia, mas ele queria ficar de fora. -Resolvam lá isso vocês os dois, mas deixem-me de fora para poder controlar melhora situação. Reginaldo Teles não era burro e ficou desconfiado. Naquele momento não disse nada mas, passados dias, voltou a falar do assunto. -O melhor é ficarmos os dois de fora, e eu arranjo alguém para tratar do assunto directamente com o Luigiano D´Onofrio. De início, o negócio correu bastante bem, mas passados alguns meses, a polícia começou a ameaçar com algumas buscas, tendo inclusive ido esperar o autocarro do clube à portagem dos Carvalhos para o revistar de alto a baixo. Mas nunca encontrou nada, porque a rede estava bem montada e não faltavam informadores. No entanto, Galo da Costa sentiu o perigo que essa situação podia estar a criar e, como tinha consciência de que inimigos era coisa que não lhe faltava, depois das primeiras prisões de pessoas ligadas ao grupo que actuava em paralelo com D´Onofrio, deu ordem para se terminar com o negócio da cocaína que começava a ser vendida um pouco descaradamente aos próprios jogadores de futebol do FC Porto. Galo da Costa não perdia tempo. Não dormia só para pensar. A «coca» garantia muitas horas de espertina, no fim de contas.

Na Ribeira do Porto, dois homens estão frente a frente, tendo como intermediário um copo quase a transbordar de vodka. Um deles foi o craque do clube da cidade (Firmando Gomes). O outro é um jornalista desportivo. Ambos recordam os bons velhos tempos, quando Galo da Costa era apenas um elemento de uma equipa que então ganhava sem precisar de recorrer a meios ilícitos e sem possibilitar o ganho de milhares de contos a marginais e arrivistas. O jogador começou a conversa: -Este mundo é mesmo ingrato. -A quem o dizes - suspirou o jornalista. - Parece que estão todos contra mim. Até o teu colega Travares Telles me vigarizou em mil contos. Disse que ia escrever o livro da minha vida, pediu o adiantamento e o livro foi um ar que se lhe deu... -Que é que se há-de fazer? Este mundo do futebol é mesmo assim. Também não te despediram do clube sob o argumento de que tinhas faltado ao jantar? -Essa é que foi... Deus do céu, só de pensar o quanto eu gosto daquele clube! Mas esse moço de recados, o Octrácio, vai ter um bonito funeral. -Não acredites nisso - retorquiu o jornalista, baixando o tom, pois acabara de entrar no bar um elemento que não conseguiu identificar - o tipo sabe enganá-los com falinhas mansas. Sabes que com todo o dinheiro que tem ainda está a dever mil paus ao director do meu jornal, uma coisa dos tempos de Coimbra? -Vou sair do futebol - anunciou o craque, após uma longa pausa - Este mundo não vale a pena: só os vigaristas, os bruxos e os indigentes é que têm futuro. E não vale a pena metê-los todos num convento, um a um, pois rapidamente iriam acabar por convencer os próprios santos. Bah!, que se lixem esses gajos... -Tem fé, amigo, pois vão acabar por cair de podres. Mas Firmando Gomes, o craque, não estava num dia positivo. Fechou os olhos e pormomentos recordou os golos que marcou, viu-se de braços no ar, os cabelos molhados,correndo para os adeptos, subindo a rede, abraçando o presidente e pensando que o mundo se resumia ao estádio. -Lembras-te quando disseste que a sensação de marcar um golo era superior à de um orgasmo? - perguntou o jornalista, quebrando um silêncio apenas embalado por uma música do Rui Piolhoso que se ouvia em fundo. Firmando Gomes desfiou as suas mágoas, num lamento-monólogo que foi subindo de tom: -Já sei que não sou um génio; nem acabei o curso dos liceus, mas não sou como aquela besta do «capitão» (João Pintas), que ia para os estágios sempre com o mesmo livro, continuando a ler no local que nós íamos marcando, ora mais adiante ora mais para trás. Mas corri um pouco o mundo, leio os jornais e não me dou com a ralé. Até dizem que tenho voz radiofónica e quem sabe se não poderei ser um dia um grande comentador desportivo. Ah, mas o meu sonho, o meu grande sonho, é ser presidente do clube, isso sim, isso iria encher-me as medidas! Eu sei, eu sei, não digas nada, já sei que só depois de o homem morrer é que terei algumas hipóteses. Mas ele não vai morrer tão cedo. Não sei como, mas conseguiu a protecção da Nossa Senhora de Fátima. Sim, da Nossa Senhora de Fátima. O cabrão! Só a mim é que ela não aparece... Firmando estava inconsolável: -Não lhe vou perdoar nunca o facto de me ter obrigado a acabar a carreira noutro clube, logo eu, o símbolo daquele emblema, a sua imagem de marca, o primeiro a dar-lhe algum dinheirinho para o bolso e o favorito do Pidroto. Aqui Firmando teve uma ideia: -Ouve lá, e se eu lançasse uma campanha para dar o nome de Pidroto ao nosso estádio? A ideia nasceu ali, naquele momento, mas no mesmo dia, GC teve dela conhecimento. Vão ter que esperar sentados! - rugiu, sem conseguir esconder que lhe estavam a tentar cravar um espinho na pata. A ideia nasceu, foi regada e germinou. Numa noite de Inverno, foi mesmo debatida e aplaudida num colóquio que se realizou nos arredores da cidade do Porto. Os jornais fizeram eco do acontecimento, mas nenhum jornalista ousou perguntar a GC o que pensava da ideia. GC evitou sempre a pergunta, na certeza de que o assunto acabaria por ficar esquecido. -O Pidroto já lá tem uma lápide, não precisa de mais homenagens e, c´um raio, se ele merece o nome no estádio, o que é que eu não mereço? - interrogou GC os botões do seu novo fato príncipe-de-Gales (...)".
Continua...
Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
Nota 2: Para não cansar os nossos leitores e visto que se aproxima um weekend de calor, a publicação de O POLVO só voltará a ser postada na próxima segunda-feira. Até lá, convido todos os que leram desde a 1ª à 6ª parte a postarem um comentário sobre o que acham desta mirabolante história.

5 comentários:

José António Torres disse...

fiquei estúpido.....aliás estupefacto!!!!

arrebumbas disse...

Caro J.A. Torres,

... e ainda muita coisa está para vir...

Anónimo disse...

Mal posso esperar por segunda-feira... esta é que é a verdadeira novela da vida real...só espero que no fim o Al capone vá preso e a camarilha dele estrebuche em Custóias, ou melhor, Pinheiro da Cruz que fica em terra dos ditos mouros.Isso é que era um final antológico.Força sejas lá tu quem fores... que não te doam os dedos.

Anónimo disse...

depois de ler estes textos e se a coisa for mesmo assim só posso concluir uma coisa: A justiça em Portugal não funciona. país de merda é só corruptos.

Anónimo disse...

Realmente digno de um filme todo este enredo. Esses cabrões ainda vão de saco e no dia que o maior cabrão deles todos morrer vai ser um carnaval pelo país inteiro.
Continua o bom trabalho.