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quarta-feira, 11 de julho de 2007

O POLVO (4ª Parte)



Continuação (Agora é que vai começar a “tourada”)

“(...) - «Reginaldo, hoje tens de ir a Setúbal entregar uma prenda para o filho do árbitro Carlos Fordes, que faz anos» - pediu, certo dia, GC.
Reginaldo Teles, sempre pronto para estas acções, lá rumou até Setúbal com um fio deouro e uma medalha gravada com o nome do filho do árbitro. Mas, quando lá chegou, não encontrou ninguém em casa. Uma vizinha, que estava na varanda a estender roupa, disse-lhe que tinham ido todos a casa da sogra festejar os anos do miúdo. Reginaldo não perdeu tempo: -Sabe dizer-me onde mora a sogra? -Mora em Lisboa – respondeu a vizinha, dando de imediato a respectiva morada. Reginaldo atravessou a Ponte e uma hora depois lá estava na casa da sogra de Carlos Fordes para entregar a respectiva prenda ao filho do árbitro. Cenas como esta sucederam-se, e todos aceitavam com agrado tamanha amabilidade. Era um gesto bonito e que ninguém podia condenar. Não estava em causa qualquer jogo ou favor, mas uma amabilidade que não era muito normal no futebol. Galo da Costa e Pidroto tinham escolhido a pessoa ideal para executar tal missão. Reginaldo Teles era bem sucedido quando espelhava a face da inocência, do desinteresse, do bom amigo. Foram dezenas e dezenas de missões como esta que deram entrada a Reginaldo Teles na intimidade dos árbitros. Depois de um gesto daqueles, era normal que convidassem Reginaldo para um brinde ou mesmo para ficar um pouco na festa familiar. Nasceram amizades e compadrios. Convites para encontros mais para o Norte e de preferência no seu bar de alternos, com mulheres e copos disponíveis. Lisa tinha tomado conta do negócio, e a sua experiência de mulher da vida muito batida ajudava a controlar e a organizar umas cenas de sexo com as miúdas escolhidas pelos árbitros que visitavam Reginaldo no seu estabelecimento. Pidroto desconfiava da situação e andava assustado com o negócio, mas a doença tomou conta dele e perdeu força, muito embora comandasse todas as operações e estabelecesse estratégias a partir do seu leito, com a cumplicidade do seu fiel adjunto Antónimo Morais. Galo da Costa não gostava da política que estava a ser adoptada e, picado por Reginaldo Teles, com quem tinha relações já muito estreitas, começou a trair o seu grande amigo Pidroto. Reginaldo sabia que o técnico não gostava muito do seu estilo nem apoiava algumas das suas acções. Queria dar dignidade ao clube, e um chulo não seria a personagem ideal para representar em diversas acções a grandiosidade do projecto que ele queria atingir. Reginaldo Teles sabia insinuar-se perante as pessoas. Começou a convidar o presidente para uns copos no seu território. GC nunca se tinha visto rodeado de tantas mulheres. Tinha uma educação de seminarista e nunca lhe passara pela cabeça trair a sua mulher, mas um dia não resistiu às investidas de uma das funcionárias do seu grande amigo Reginaldo Teles. A mulher tinha sido bem escolhida por Lisa e educada por Reginaldo. GC sentiu-se no céu, quando desceu ao leito do amor. Nunca tinha vivido experiência como aquela. Deu consigo a pensar: -Como é que foi possível andar 40 anos sem conhecer uma experiência como esta? Reginaldo tinha ganho a sua primeira batalha. O presidente ficou agarrado a ele através do amor de terceiras (e de quartas, quintas, sextas... não sendo também incomum aos sábados...). Vieram outras experiências, outras mulheres e Galo da Costa andava eufórico. Depois de Pidroto ter morrido, Reginaldo Teles passou a ser o expoente máximo de Galo da Costa, e os outros vice-presidentes do clube não andavam nada contentes com a situação. Um dos grandes amigos de GC chegou mesmo a comentar: -O GC tem uma cabeça extraordinária. O seu mal foi ter começado a ir ao pito aos 40 anos. Isto dito assim nem parece nada, mas a verdade é que a vida nocturna transformou por completo Galo da Costa, que pensou, por momentos, ter alcançado o paraíso na Terra. Reginaldo Teles tinha uma influência extraordinária sobre GC, levando-o mesmo a dizer que só confiava em Reginaldo e no seu gato. Lisa geria o «Play-Girl», o novo bar de Reginaldo, com uma eficiência extraordinária, mas não passava de uma ex-puta, ou mais propriamente de uma puta reformada, mas ainda com boa pinta. A amizade entre ela e GC tinha aumentado graças aos excelentes encontros que ela lhe ia conseguindo com as suas melhores raparigas.
A ligação de Reginaldo Teles ao futebol proporcionava-lhe bons negócios e passos gigantescos na sua ascensão na direcção do clube. A acção de charme com os árbitros evoluía cada vez mais. Os dirigentes que não aceitavam Reginaldo iam sendo afastados. Mesmo aqueles que já tinham uma amizade de longos anos com Galo da Costa. O sexo tinha tomado conta da mente do homem e não havia nada nem ninguém capaz de o fazer parar e encarar a situação de uma forma mais digna. A assiduidade de Galo da Costa era quase diária e não havia forma de alterar os hábitos adquiridos. As mulheres desfilavam pela sua mesa e ele só tinha de escolher qual queria comer e a forma como o queria fazer. Era norma ser o patrão o primeiro a experimentar as novas empregadas, mas essa função no «Play-Girl» passou a pertencer a GC. Era a porta aberta para o êxito e a ascensão de Reginaldo Teles.
O clube de Galo da Costa tinha atingido o auge tanto em termos nacionais como europeus. Era o apogeu, o delírio e o júbilo de um povo que nunca se tinha visto em tamanha aventura. GC fez esquecer o seu velho e grande amigo Pidroto, evitando qualquer comentário que pudesse recordar o velho mestre. A glória tinha de ser só sua e de mais ninguém. A cidade caiu-lhe aos pés, e foi a partir dessa altura que GC tomou consciência do poder que tinha e que Reginaldo Teles começou a alimentar a sua grande esperança de um dia vir a ser alguém no seu clube. Reginaldo tinha Galo da Costa quase na mão, através dos assíduos encontros deste último com as suas miúdas. As amantes sucediam-se e até entravam em lista de espera. GC sentia-se um Don Juan e conhecia uma vida totalmente diferente daquela a que sempre estivera habituado. O poder alimentou ainda mais a sua ambição e começaram aí as traições aos seus melhores amigos. Umas como pura defesa pessoal, outras para abrir caminho para os que iam chegando e prometiam uma maior subserviência, o que lhe dava a garantia de poder governar sozinho e principalmente sem ter de dar muitas explicações. Os títulos traziam muito dinheiro para os cofres do clube e Galo da Costa já tinha esquecido os momentos em que era apenas um vendedor de fogões, muito embora continuasse ligado à mesma firma, onde mantinha uma posição superior. Os milhares com que tinha de lidar começaram a toldar-lhe a mente e a aumentar a sua ambição. O seu clube era um grande chamariz para os grandes negócios e não faltaram oportunistas para tirar partido disso. Foi nessa altura que surgiu um empresário italiano muito ligado à venda de jogadores, mas com negócios ilícitos à mistura. Luigiano D´Onofrio já tinha jogado futebol em Portugal, e acabou por criar raízes no nosso país, mais propriamente a sul, aproveitando uma grande parte do seu tempo para entrar nas redes ligadas ao tráfico de droga... e era mesmo vital aquele ponto geográfico para o negócio!
Luigiano D´Onofrio, um indivíduo baixo, magro e com cara de rato, de nariz afilado mais parecendo um bico, apareceu pela mão de Reginaldo Teles e recebeu a bênção de GC. Luigiano D´Onofrio era um empresário sem escrúpulos e com alguns mandatos de captura em diversos países europeus, precisamente por tráfico de droga, mas foi acolhido como uma pessoa de grande interesse para o clube. Galo da Costa foi quem mais lucrou com a sua vinda. Os jogadores do seu clube inflacionaram-se no mercado europeu, e Luigiano D´Onofrio viu ali um grande negócio para si e para GC. Em todos os jogadores que fossem negociados para o clube ou que saíssem dele, o presidente teria sempre a sua percentagem, desde que mais ninguém interferisse no negócio. Após o recebimento das primeiras comissões Galo da Costa via-se rodeado por dois elementos ligados ao mundo do crime. Não era segredo para ninguém que Luigiano D´Onofrio tinha ligações com a Mafia italiana e que Reginaldo mais alguns familiares viveram sempre de habilidades e negócios marginais, negócios centralizados na prostituição e na receptação de objectos roubados. «Pena é que estes ramos não estejam inscritos nos fundos comunitários», costumava dizer Reginaldo, que um dia ficou deliciado quando em Amesterdão viu umas garinas expostas em montras. Por um só momento, Reginaldo viu a rua de Santa Catarina transformada um gigantesco bordel, imaginando situações do tipo «leve três e pague duas» ou «pague o seu bacanal em dez suaves prestações». Mas era sonhar muito alto.
Foi este tipo de gente que fez engolir em seco muitas pessoas honestas e com dignidade que estavam ligadas ao clube. Alguns protestaram, defenderam a ideia de que o clube tinha de ser gerido com mais transparência e acabaram por ser afastados. Como aconteceu com Adalberto Magalhães, reputadíssimo empresário. GC, cada vez mais lá no alto, qual Deus do Olimpo, qual César à frente das legiões, não dava tréguas: -Aqui quem manda sou eu, e quem não estiver bem que se afaste! O clube vivia momentos conturbados em termos directivos, mas os resultados desportivos eram óptimos. Consequentemente, Reginaldo Teles ia subindo na hierarquia do clube. Já tinha subido de chefe de segurança a chefe de departamento de futebol, uma ascensão que deixou muita gente de boca aberta, mas que foi aceite sem grande contestação, pois nessa altura já Reginaldo tinha todo o seu staff de segurança organizado. Reuniu alguns dos maiores rufias da cidade, alguns dos seus conhecidos dos negócios marginais e de prostituição, e impôs um cordão de silêncio tanto a jornalistas como a dirigentes. Quem contestasse ou denunciasse algo que não convinha, recebia a visita de um desses marginais e ficava sem vontade de dizer mais nada, subordinando-se ao silêncio e à aceitação dos factos. Nem os sócios conseguiam fugir a esta perseguição (...)".
Continua...
Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

5 comentários:

Amo-te Benfica disse...

Isto está fantastico!
À espera de novos capítulos...

O desvendar da máfia portuguesa, mas como é referido "Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência"

Parabens parceiro, continua com esta apaixonante história !

arrebumbas disse...

Meu caro amigo amo-te benfica,

Como sabes, estamos aqui para falar do Glorioso e de merdas, como tu próprio escreves na introdução ao blog, por isso eu apenas faço jus, ao magnífico trabalho que tu criaste.
Obrigado pelos elogios!

Benfica Sempre, mesmo depois da morte!

Anónimo disse...

Agora se Vê a falta que fazem as FP25 Abril para limpar todo este lixo e estrume conspurca o desporto e não só.

arrebumbas disse...

Nem mais, meu caro anónimo.
100% apoiado!!!

Benfica Sempre, mesmo depois da morte!

Lampião do Norte disse...

Arrebumbas, isto é tirado do 'Golpe de Estádio'? As semelhanças são brutais!

Abraço!