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domingo, 20 de junho de 2010

História dos Estádios: Capítulo VI


História dos Estádios:
Capítulo VI - Estádio das Amoreiras (1925 - 1940)

O Estádio das Amoreiras foi a concretização de um sonho de 20 anos, que permitiu ao Benfica ter finalmente um "poiso certo". Quando a Escola Normal começou a exigir, em 1920, a utilização dos terrenos da Quinta de Marrocos (local onde se situava o velho campo de Benfica), o Clube iniciou contactos para conseguir um espaço onde pudesse construir um campo atlético. Em 10/04/1921, uma vez mais por intermédio de Cosme Damião, o Benfica conseguiu um terreno onde se podiam erguer novas instalações desportivas. A Direcção nomeada em 10/09/1921 teve tarefa de grande envergadura na preparação da transferência do parque de jogos para o terreno onde o Benfica havia de erguer uma obra notável para a época, embora não tivesse chegado a ficar concluída por completo - o Estádio das Amoreiras.

Houve que preparar tudo: plano (em face das necessidades impostas pelo eclectismo desportivo), projecto, estimativas e... dinheiro! Tudo isto constituiu um processo complicado. Mas serviu, uma vez mais, para demonstrar o entusiasmo que o Benfica sempre empregou nas suas campanhas. A Direcção projectou uma obra grandiosa, destinada ao futuro. O grande objectivo era conseguir pela primeira vez, no seio do Clube (que comemorara, em 28.2.1921, o 17.º aniversário), um espaço desportivo definitivo, isto é, que, de uma vez por todas, lhe pertencesse.

Mas para concretizar o sonho era indispensável arranjar dinheiro, tendo em conta o desejo de tudo ser feito com recursos próprios, à custa de espírito de sacrifício e de muito entusiasmo. Levou dois anos a preparar o "projecto" em que assentou a aquisição dos terrenos das Amoreiras e a construção do novo parque de jogos. A Assembleia Geral realizada em 04/02/1923 foi uma das mais importantes na nossa história. A Direcção foi autorizada a realizar a emissão de 12 000 Obrigações hipotecárias, no valor de 1 200 contos, e de 5 000 Títulos de Propriedade, no valor individual de 200$00 (perfazendo, no total, 1 000 contos), para a construção do Estádio das Amoreiras e para a aquisição de terreno destinado a esse complexo. A compra do terreno, em excelentes condições de localização e preço, foi efectuada com a intervenção de Cosme Damião, que agregava, em simultâneo, as funções de vice-presidente da direcção do Clube e de empregado superior da Casa Palmela, proprietária dos terrenos.



À transacção, seguiu-se a campanha de lançamento de Obrigações e Títulos de Propriedade. Foi uma obra larga de tenacidade e de entusiasmo. O custo do terreno foi de 451 077$50. As obras iniciaram-se em Outubro de 1923. Seguiu-se a construção do Estádio, tendo a direcção contraído um empréstimo de 200 contos, destinado a acelerar o andamento das obras. Até 30/06/1924, os custos estimavam-se em 534 504$80. Um ano depois, em 30/06/1925, os valores eram já de 947 462$37. Finalmente, após mais de dois anos de trabalho esgotante, em que foi necessário as direcções fazerem um esforço gigantesco (e os associados corresponderem), o Benfica inaugurou, a 13/12/1925, um magnífico estádio, perante o testemunho de cerca de 15 000 pessoas. O sonho tornava-se realidade!

Depois do Estádio inaugurado, a Direcção foi viu-se forçada, em 25/04/1926, a contrair novo empréstimo, agora de 100 contos. Com as instalações das Amoreiras gastou-se, até 30/06/1926, 1 480 666$60, incluindo o custo do terreno. O projecto contemplava, também, uma sede junto ao estádio, plano que nunca chegou a concretizar-se! Mas foi nas Amoreiras que o Benfica ressurgiu com a força que lhe iria permitir reencontrar os grandes êxitos. Em termos associativos, o clube possuía agora mais um núcleo na cidade, captando simpatias acrescidas numa área importante de Lisboa: Amoreiras/Campolide/Campo de Ourique. Iniciava-se, assim, um "triângulo vermelho" na Capital, com vértices em Benfica (sede), Baixa (secretaria) e Amoreiras (estádio).

Por ocasião da festa comemorativa das "Bodas de Prata" do SLB, realizada no Estádio das Amoreiras, em 31/03/1929, efectuou-se uma grande parada atlética, com a participação de meio milhar de atletas de todas as modalidades, incluindo de algumas filiais. Pelo terreno das Amoreiras passou o que havia de melhor, ou de mais prometedor, entre os inúmeros atletas do Clube, que desfilaram perante as bancadas cheias de público. A repercussão no universo benfiquista e na imprensa foi tal que daí em diante, no rectângulo de jogo das Amoreiras, se passou a realizar, anualmente, uma grande parada atlética.



Foi durante a permanência nas Amoreiras que o Benfica conquistou os primeiros títulos nacionais: 3 Campeonatos de Portugal (a prova que antecedeu a Taça de Portugal) e o tri-campeonato da I Liga (35/36, 36/37 e 37/38) - competição que depois se viria a designar de I Divisão e, mais tarde (já nos anos 90), novamente de I Liga. Durante este período (1925-1940), o Benfica conquistou ainda uma Taça de Portugal e dois Campeonatos Regionais. Houve grandes jogos nas Amoreiras, com destaque (além da já referida vitória sobre o Ferencvaros), para o 13-1 ao Casa Pia (no Regional de Lisboa), o 6-0 ao FC Porto (na 2.ª mão das ½ finais da Taça de Portugal, recuperando(!) de uma derrota de 1-6 na 1.ª mão), e a vitória por 5-0 sobre Sporting, que permitiu a conquista do 10.º regional de Lisboa, em 39/40. Nas Amoreiras, conseguiu o Benfica 2 séries de 14 vitórias consecutivas e uma série de 25 jogos sem perder. Efectuaram-se neste campo 238 jogos, de que resultaram 164 vitórias, 33 empates, 41 derrotas e 812-343 em golos.



As Amoreiras foram sempre tratadas com o maior carinho pelos benfiquistas. Em 1936, chegou a pensar-se na conclusão do projecto que consistia no melhoramento e aumento das bancadas para 20 000 pessoas, bem como na construção de uma piscina. Junto ao campo de jogos, existia o campo de basquetebol e dois "courts" de ténis. No Verão de 1937, fizeram-se obras para melhorar o piso e facilitar o sistema de drenagem. Em 1939, porém, começam as preocupações com o estádio das Amoreiras: a Direcção do clube é informada de que o ministro Eng.º Duarte Pacheco não prescinde de promover rapidamente a construção de uma auto-estrada pelo traçado escolhido (que implica a inutilização da bancada do peão) e do propósito de atirar os campos desportivos para fora do perímetro interno da cidade. O Benfica tinha, então, de sair das Amoreiras e, provisoriamente, instalar-se no Campo Grande, enquanto a Câmara Municipal de Lisboa não construísse três estádios no Parque Florestal de Monsanto para os três principais clubes da capital.



A indemnização oferecida ao Benfica foi de 600 contos, valor que este contestou, conseguindo elevar o montante em cerca de 33 por cento (800 contos). Foi já sob o estigma do abandono que o Benfica promoveu, nas Amoreiras, em 23/07/1939, um grande almoço de homenagem aos campeões do Clube. Em 1940, dois momentos marcaram a despedida deste Campo: a festa comemorativa do 36.º aniversário (realizada no dia 7 de Abril) e que significou o adeus ao Campo; e a disputa do último jogo (23 de Junho) - um encontro a contar para a 1.ª Mão das meias-finais na Taça de Portugal, com o Barreirense (vitória do Benfica, por 5-2).



Actualmente, nos terrenos onde esteve o campo e instalações desportivas está o Liceu Francês e a Avenida Eng.º Duarte Pacheco. Em finais de 1940, o Benfica abandonou as Amoreiras, deixando no local apenas uma delegação. Afinal, o sonho de ter campo privado tornara-se realidade somente durante algum tempo. Após 15 anos de morada fixa, o Benfica regressava a um campo provisório, sendo "obrigado" a arrendar um espaço à CML. Para trás ficava o mítico Estádio das Amoreiras, local onde a mística muito se reforçou.



Os primeiros anos foram de consolidação e, em 1929, dois acontecimentos marcaram as Amoreiras, o Benfica e o desporto português: a visita da consagrada equipa húngara do Ferencvaros, considerada uma das melhores da Europa (nas habituais digressões pelo continente europeu "arrasava" os adversários, incluindo em Portugal, onde goleara já alguns dos melhores clubes portugueses - Sporting e Belenenses, pelo mesmo resultado: 6-0). Em 06/01/1929, perante uma multidão que constituiu "record" de receita em jogos realizados no nosso País, o Benfica venceu o Ferencvaros por 1-0 (considerado, durante muitos anos, o "melhor resultado do futebol português" - é que, depois, os húngaros ainda venceram, mesmo após viagens extenuantes, o V. Setúbal, por 4-1, e o FC Porto, por 5-3). O resultado reavivou os grandes feitos do Benfica em jogos com emblemas internacionais.



 
‡ Curiosidades, Dados Estatísticos e Marcos Históricos ‡



Nome: Estádio das Amoreiras

Localização: Em Campolide, no troço Norte (lado esquerdo) da Rua das Amoreiras. Confinava a Sul com as instalações da Carris, a Norte com as traseiras dos prédios da Rua do Arco do Carvalhão, a Este com a Rua das Amoreiras, onde estava a entrada, no n.º 135, e a Oeste com o Aqueduto das Águas Livres

Datas de posse: Entre 04/02/1923 e finais de 1940



Tipo de Propriedade: Propriedade do Clube



Situação Actual: Instalações do Liceu Francês e Av. Eng.º Duarte Pacheco, entre o Liceu Francês e o Centro Comercial Amoreiras



Superfície aproximada da área: 19.500 m2



Valor aproximado: 1.480.666$60 (incluindo o custo do terreno, de 451.077$50)



Resultados Totais:
Total de 238 jogos. 164 vitórias, 33 empates e 41 derrotas; 812 golos marcados e 343 golos sofridos.




Alguns dos resultados mais expressivos:



06/01/1929 - Vitória de 1-0 sobre o Ferencvaros TC (Hungria)
Obs.: O Benfica foi o único clube vencedor dos húngaros, que na sua digressão por terras lusas golearam todos os melhores clubes portugueses.
05/12/1937 - Vitória de 13-1 sobre o Casa Pia AC
Obs.: Conquista do 10.º título de Campeão Regional
03/02/1939 - Vitória 5-0 sobre o Sporting CP
18/06/1939 - Vitória de 6-0 sobre o FC Porto

 

Curiosidades:



Data da Inauguração e 1.º jogo: 13/12/1925, num jogo para o Regional de Lisboa, com o Casa Pia AC.
Data do último jogo: 23/06/1940, para a Taça de Portugal, com o CF Barreirense
Maior assistência: 15.000 pessoas
Outras Instalações: Dois "courts" de Ténis e Campo de basquetebol
Motivo do Abandono: Expropriação pelo Ministério das Obras Públicas, para a construção da auto-estrada de acesso ao Viaduto de Monsanto, actualmente com o nome do Ministro Eng.º Duarte Pacheco (indemnização de 800.000$00)


 

sábado, 19 de junho de 2010

História dos Estádios: Capítulo V


História dos Estádios:
Capítulo V - Campo de Benfica (1917 a 1926)



A utilização do campo de Benfica coincide com uma fase de crescimento do Clube em termos sociais e associativos, mas não como se desejaria sob o ponto de vista desportivo, com o Benfica a realizar, nos anos 20, uma das prestações menos positivas da sua história. Após a absorção dos Desportos de Benfica, em 17/09/1916, o Clube passou a utilizar como sede as instalações da Avenida Gomes Pereira, em cujas traseiras existia um campo atlético (na Quinta de Marrocos), onde se praticava futebol desde 1914 e que era utilizado por alguns clubes de Lisboa que não possuíam campo próprio, tal como o GS Cruz Quebrada. Após a absorção, o Benfica celebrou com a Empresa dos Melhoramentos de Benfica (EMB) - proprietária dos terrenos onde se situava o campo - um contrato anual de arrendamento, no valor de 840$00, pago em mensalidades adiantadas de 70$00.



A direcção deliberou, então, utilizar em exclusividade o campo de Benfica, decidindo-se pelo abandono das instalações de Sete Rios. Para oferecer melhores condições aos espectadores, oficiou à EMB, propondo-lhe que, apesar de as obras a executar (ampliação das bancadas e melhoria da segurança) serem da responsabilidade dessa empresa, estas fossem efectuadas pela direcção do Clube, mas descontando a quantia despendida para o efeito na importância em dívida para com a EMB. Em resposta, esta alegou serem demasiado pesados os seus encargos, não podendo, por isso, aceder por inteiro ao pretendido, prontificando-se, todavia, a comparticipar as obras em 200$00, a descontar nas últimas prestações do débito dos Desportos de Benfica.

Feito o acordo, inaugurou-se, em 11/11/1917, o já remodelado campo de Benfica, com um encontro frente ao Sporting, em que esteve em disputa a "Taça Cosme Damião". O recinto conservava a antiga disposição (paralelo à Avenida Gomes Pereira); possuía uma vedação melhorada; as bancadas, que antes eram paralelas às linhas do campo, ficavam agora em ângulo; na parte superior do vestiário, havia sido construída uma estrutura para albergar público, que dominava por completo todo o campo; o espaço era mais amplo e desafogado, ao nível do melhor que podia haver em Lisboa.

O complexo era guarnecido de duas entradas separadas: uma pela porta principal da sede, na Avenida Gomes Pereira (destinada ao público dos lugares reservados), e a outra (reservada ao público do peão) pelo portão que dava para a Estrada de Benfica. E tão bem instalado ficou que serviu para as iniciativas desportivas mais diversas. Todavia, o Benfica não iria ficar por muito tempo neste campo. É que tudo o que aí arrendara viria a ser vendido ao Ministério da Instrução (hoje Ministério da Educação), para servir a Escola Normal de Lisboa (mais tarde Magistério Primário e hoje Faculdade de Ciências da Educação).



Em 25/03/1919, o Benfica conseguiu um contrato de arrendamento que lhe permitiu continuar a usar as instalações. Em troca, porém, foi obrigado a ceder espaços aos alunos e professores da Escola Normal. Graças ao espírito de iniciativa do Clube, o campo de Benfica foi palco do primeiro jogo nocturno realizado em Portugal. Colocaram-se, em redor do recinto, 18 reflectores de 1000 velas, instalando-se, nos camarotes e nas bancadas, um número elevado de lâmpadas encarnadas e brancas, colocadas alternadamente, de modo a produzir um excelente efeito de conjunto. O jogo realizou-se em 10/09/1919 (uma quarta-feira) e colocou frente a frente o Benfica e uma equipa mista, composta por jogadores do Império, do Internacional e do V. Setúbal.



O problema dos terrenos e das relações entre a Direcção do Clube e a Direcção da Escola agravou-se mais tarde, no início dos anos 20. Numa reunião de Direcção, realizada em 10/04/1921, foi aprovada uma proposta de Cosme Damião para a mudança da colectividade, de Benfica para as Amoreiras. O Benfica procurava, no entanto, manter o espaço para outras modalidades, caso do hóquei em campo. A Escola Normal, em reunião de 03/10/1921, não exigiu a saída imediata, permitindo que o Benfica continuasse a usufruir dos direitos de inquilino (sede e campo). Por via dessa resolução, o Clube podia permanecer no campo de Benfica por mais algum tempo.



Os primeiros espaços desportivos a serem sacrificados foram os "courts" de ténis, tendo ficado apenas um, na sede. Mas, em 1923, o Benfica foi mesmo obrigado a abandonar o campo, porque se entendeu construir uma rua de ligação entre a Estrada de Benfica e a Estrada Nacional, atravessando o local onde se situava o campo (rua que só viria a ser constuída em... 1997(!), ou seja, 74 anos depois...). Em 1923/24, a falta de campos na cidade que oferecessem boas condições para jogar levou a que apenas fossem utilizados dois espaços desportivos no Regional: o Campo Grande (do Sporting) e o campo de Palhavã (do Império Lisboa Clube). Na época de 1924/25, o Benfica utilizou o campo de Palhavã para efectuar os seus jogos "em casa", enquanto não se encontravam concluídos os trabalhos no seu futuro reduto: o Estádio das Amoreiras.



No campo de Benfica, o nosso clube realizou 27 jogos, tendo somado 11 vitórias, 6 empates, 10 derrotas e um total de 56-45 em golos. Enquanto utilizou este espaço, o Benfica conquistou 2 Campeonatos Regionais (17/18 e 19/20), 2 Taças de Honra (19/20 e 21/22) e 1 Taça da Associação (21/22). O último jogo efectuou-se em 11/03/1923, para o Regional de Lisboa, com o Império LC (embora o campo tivesse continuado a ser utilizado até 1926, para treinos eactividades de outras modalidades. O Clube deixava, então, a área da cidade que lhe dera o nome definitivo. Só voltaria a Benfica em 1954, após 30 anos de permanência em outros pontos de Lisboa.




‡ Curiosidades, Dados Estatísticos e Marcos Históricos ‡



Nome: Campo de Benfica

Localização: Quinta de Marrocos, nas traseiras da sede na Av. Gomes Pereira (onde se fazia uma das duas entradas de que o campo dispunha (havia outra pela Estrada de Benfica)



Data da posse: Entre 17/09/1916 e 1926



Tipo de Propriedade: Terreno Alugado por 840$00/ano, pagos em mensalidades adiantadas de 70$00



Situação Actual: Escola Secundária da Quinta de Marrocos e traseiras do edifício da Junta de Freguesia de Benfica (ex-sede do SLB)

Superfície aproximada da área: 15 000 m2 + 15 000 m2 do edifício e outras instalações da sede



Resultados Totais (de 11/11/1917 a 11/03/1923):
Total de 27 jogos. 11 vitórias, 6 empates e 10 derrotas; 56 golos marcados e 45 golos sofridos





Alguns dos resultados mais expressivos:

20/04/1919 - Vitória de 4-0 sobre o Vitória FC (Setúbal)
29/02/1920 - Vitória de 12-1 sobre o Internacional (CIF) e conquista do 10.º título de Campeão Regional



 
Curiosidades:



Data da Inauguração e 1.º jogo: 11/11/1917, jogo com o Sporting (Taça Cosme Damião)

Data do último jogo: 11/03/1923, jogo como Império LC, para o Regional de Lisboa

Maior assistência: 10.000 pessoas

Outras Instalações: Junto ao campo situava-se a sede, um rinque de Hóquei em Patins e três "courts" de Ténis

Motivo do Abandono: Mudança de proprietário - utilização dos terrenos pela Escola Normal (Magistério Primário), depois de 25/03/1919


 

quinta-feira, 17 de junho de 2010

História dos Estádios: Capítulo IV


História dos Estádios:
Capítulo IV - Campo de Sete Rios (1913 a 1917)

A ida do Benfica para Sete Rios determinou a conquista de novos adeptos noutra área da cidade, bem como a existência de espaço para introduzir no Clube novas modalidades: o Ténis, a Natação e o Pólo Aquático. Em 1908, quando se soube que não havia capacidade financeira para renovar o contrato de arrendamento na Quinta da Feiteira, os dirigentes encetaram diligências com vista à resolução do problema. Mas só em finais de 1912, muito por acção de Cosme Damião, foi possível alugar-se um terreno (por 250$00 anuais, pagos em duas prestações).

Este terreno, de nome Quinta Nova, pertencia à Casa Palmela, da qual Cosme Damião era o secretário. O Benfica mudava-se, então, para um local onde o futebol dominava, já que, na mesma área, existiam dois outros campos, ambos inaugurados com a participação do Benfica: o de Palhavã, propriedade do SC Império (inaugurado em 29/10/1911, com vitória do Benfica sobre o clube local, por 2-1) e o das Laranjeiras, pertença do Internacional (CIF) - inaugurado em 01/12/1911.

Para a aquisição e adaptação do terreno da Quinta Nova a campo de jogos, o Benfica fez uma subscrição aberta, no Clube, para angariação de fundos. Alugado o terreno (em 01/01/1913) - junto ao apeadeiro de Sete Rios, na linha de cintura interna dos caminhos-de-ferro (com entrada pela Estrada de Palhavã) -, iniciou-se, desde logo, o processo de preparação das obras, com a elaboração do projecto do campo (ainda sem incluir bancadas) e com a angariação de fundos especiais para fazer face à despesa extraordinária de limpeza e arranjo do terreno, tendo em vista a sua conversão em parque desportivo.

O entusiasmo era grande mas... o dinheiro escasseava. Era, por isso, necessário conciliar estas duas realidades - começar a trabalhar praticamente sem dinheiro e, na medida dos possíveis, procurá-lo com rapidez. Resolveu-se, assim, contar especialmente com o apoio dos benfiquistas, não só no fornecimento de mão de obra, mas, também, através duma subscrição de carácter voluntário, participando cada um conforme as suas posses. O entusiasmo nunca faltou. Mercê dele, foi possível iniciar as operações de arranjo do terreno, com o natural ensejo de o tornar melhor do que todos os que já existiam em Lisboa. O lema foi: "para a frente!". E poucos sócios faltaram à chamada.

Em pouco tempo, transformava-se um terreno agrícola num amplo espaço, com um piso preparado para dar lugar a um campo desportivo. A operação marcou uma fase de grande estímulo no seio do Clube, que alcançara já o estatuto de mais popular entre todas as agremiações desportivas portuguesas. Foi assinalável o esforço da massa associativa - por meio do que mais estava ao seu alcance (o trabalho ou, mesmo que pouco, o dinheiro). A circunstância deu origem a uma espécie de "febre colectiva". Directores, atletas, sócios contribuintes, ou apenas simpatizantes do nosso clube e das nossas equipas, todos se envolveram num grande esforço de cooperação.

Em certos domingos, quase não se parava ou descansava. De manhã, acarretavam-se pedras, arrancavam-se plantas e cortavam-se arbustos; depois seguia-se o almoço popular, de confraternização - geralmente uma "bacalhauzada" com batatas; mais tarde, se alguma das nossas equipas jogava, dava-se a desfilada para o terreno onde se efectuava o desafio; e por fim, no termo de mais uma jornada, extenuados mas sem desfalecimentos de ânimo, lançavam todos a uma só voz: "Viva o Benfica!".

Nas duas épocas que intercalaram a saída da Feiteira (1911) e a inauguração de Sete Rios (1913), o Benfica utilizou o campo de Palhavã (em 1911/12) e das Laranjeiras (em 1912/13) para realizar os seus jogos "em casa", a contar para o Campeonato Regional de Lisboa. E a verdade é que o uso de campo alheio não afectou o desempenho da equipa, que conquistou dois títulos durante o período em questão. Quando começaram os treinos de preparação para a época de 1913/14, já foi possível utilizar o campo de Sete-Rios. E foi com alegria e confiança que se aguardou a homologação por parte da Associação de Futebol de Lisboa (AFL).

Em 12/10/1913, perante cerca de 5 000 pessoas - número, na altura, muito pouco habitual em actividades desportivas -, a AFL abriu a época de 1913/14. No jogo mais importante, para o Regional de Lisboa, o Benfica recebeu e venceu o Sporting, por 4-0. O novo campo causou mesmo algum pasmo, pela celeridade da sua construção e pelo seu enquadramento: ao fundo do recinto de jogo, construíra-se um "chalé" de madeira, estrategicamente colocado junto a uma nora, onde o Benfica tinha as instalações de banhos e "toilette".

No sentido de facilitar e alargar a acção da colectividade, sentiu-se a necessidade de introduzir no novo campo todos os melhoramentos possíveis, em particular as bancadas (já antes pretendidas para a Quinta da Feiteira), com vista a oferecer melhores condições aos espectadores e aumentar os níveis de assistência. Para o financiamento, optou-se pela emissão de 150 títulos de empréstimo (no valor individual de 10$00), adquiridos pelos associados. Em 11/04/1915, após o embelezamento de todo o espaço, o Benfica, então com 11 anos de actividade, tinha finalmente um campo com bancadas!

Em 29 de Maio do mesmo ano, foi inaugurado o primeiro "court" de ténis, igualando-se outros clubes elitistas que gostavam de exibir o seu "lawn-tennis", com a particularidade de o espaço benfiquista ser de acesso a todos os associados. No ano seguinte, aproveitando o antigo tanque de regas, introduziu-se a natação e o polo-aquático no Clube! No futebol, o Benfica continuou a conquistar títulos e torneios, mostrando cada vez mais que era o melhor clube português - 3 títulos regionais (13/14, 15/16 e 16/17), um Torneio "Taça de Portugal" (13/14) e o Torneio Internacional "Quatro Cidades" (15/16) - este último com uma vitória sobre o FC Porto, por 9-0!

O Benfica conseguiu grandes resultados neste campo. Rubricou uma série de 13 triunfos consecutivos (59-10 em golos); no total dos 38 encontros que aí disputou, venceu 28, empatou 6 e perdeu outros 6; em matéria de golos, registou a excelente marca de 130 marcados e apenas 40 sofridos, com destaque para o facto de apenas ter ficado uma vez em branco (26/02/1916).

Em 17/09/1916, definiu-se com os Desportos de Benfica as bases para a junção de ambas as instituições, tendo ficado ressalvado que, apesar da sede da Avenida Gomes Pereira possuir um campo atlético (nas traseiras), continuar-se-ia com o campo de Sete Rios - por ser mais central - até se apurar se os encargos dessa manutenção poderiam, ou não, trazer vantagens. Sucedeu, todavia, que o senhorio, em 20 e 26/06/1917 (alguns meses antes de terminar o contrato de arrendamento), dirigiu duas cartas à direcção do Benfica, pedindo a indicação do local, dia e hora a que poderia ser recebido, com o objectivo de "combinar algumas alterações a fazer no contrato para novo período de arrendamento, a começar em 1 de Janeiro de 1918".

As alterações foram depois escritas nos seguintes termos: a renda anual passava a 650$00; as contribuições (mais de 40$00 por ano) ficavam a cargo do arrendatário; benfeitorias e obras efectuadas, ou a efectuar, fossem de que material fossem, seriam pertença do senhorio; o arrendatário ficaria obrigado a retirar, ou, pelo menos, espalhar uniformemente, por todo o terreno, caso o senhorio o desejasse, o entulho que se recebera no campo e que estava a formar a elevação do lado da geral; o contrato seria por três anos, sem que o arrendatário tivesse direito a indemnização no caso de o terreno, ou parte dele, ser expropriado pela Câmara Municipal.

Estas condições foram consideradas absolutamente inaceitáveis por todos os directores presentes na reunião de 13/08/1917. Em 31 de Dezembro do mesmo ano, a direcção decidiu, procurando resolver da melhor forma o problema que o senhorio criara, abandonar Sete-Rios e remediar-se com o campo de Benfica, depois de convenientemente adaptado. O último jogo realizou-se em 07/07/1917, com o V. Setúbal (V 3-2). O Benfica mudava-se, então, para a Quinta de Marrocos, nas traseiras da Avenida Gomes Pereira, onde possuía uma ampla sede desde 17/09/1916 (anteriores instalações dos Desportos de Benfica).

Actualmente, o espaço de Sete-Rios onde o nosso Clube jogou foi sacrificado à expansão urbana de Lisboa para norte, estando ocupado por prédios e respectivos quintais, no quarteirão delimitado pela rua Prof. Lima Basto (antiga Estrada de Palhavã), rua Dr. António Granjo, rua Dr. António Martins e linha de cintura interna dos caminhos-de-ferro, junto à estação de Sete-Rios. Após 4 temporadas de glória, o clube regressava novamente a Benfica, recolhendo os "frutos da semente" que por lá deixara, quando partira em 1911.



‡ Curiosidades, Dados Estatísticos e Marcos Históricos ‡

Nome: Campo de Sete Rios

Localização: Quinta Nova, junto ao apeadeiro de Sete Rios - na linha de cintura interna dos caminhos-de-ferro, com entrada pela Estrada de Palhavã

Situação Actual: Prédios e respectivos quintais no quarteirão delimitado pela Rua Prof. Lima Basto, Rua Dr. António Granjo, Rua Dr. António Martins e linha de cintura interna dos caminhos-de-ferro, junto à estação de Sete Rios

Tipo de Propriedade: Terreno alugado por 125 Escudos (125$00) por semestre

Superfície aproximada da área: 11.000 m2

Resultados Totais (de 12-10-1913 e 07-07-1917):
Total de 38 jogos. 26 vitórias, 6 empates e 6 derrotas; 130 golos marcados e 40 golos sofridos.



Alguns dos resultados mais expressivos:

12/10/1913 - Vitória de 4-0 sobre o Sporting CP na inauguração do Campo
01/01/1916 - Vitória de 8-0 sobre o FC Porto
27/02/1916 - Vitória de 7-0 sobre o Real Clube Fortuna de Vigo
25/02/1917 - Vitória de 9-0 sobre o Lisboa FC (7-0 ao intervalo)



Curiosidades:

Inauguração a 12-10-1913 num encontro frente ao Sporting, a contar para o Regional de Lisboa (4-0)

Data do último jogo a 07-07-1917: jogo amigável com o V. Setúbal

Maior Assistência: 10.000 pessoas

Em 29-05-1915: Inauguração do "court" de Lawn-Tenis

Em 1916: utilização do tanque de regas para praticar natação

Motivo do Abandono: As alterações ao contrato, a iniciar-se em 01/01/1908, foram consideradas "absolutamente inaceitáveis", sobretudo a passagem da renda anual para 650$00. Por outro lado, o clube possuía um terreno nas traseiras da sede, onde se jogava futebol oficialmente desde 1914.


quarta-feira, 16 de junho de 2010

História dos Estádios: Capítulo III


História dos Estádios:
Capítulo III - Campo da Feiteira (1907 a 1911)

O Campo da Feiteira foi o primeiro campo atlético que pode considerar-se ter pertencido ao Benfica; onde o clube afirmou o seu nome e começou a movimentar multidões e a arrastá-las, também, para outros campos da região de Lisboa onde exibia o seu futebol.

Em 26-07-1906, foi fundado, em Benfica, o Grupo Sport de Benfica (GSB), especialmente virado para a prática de ciclismo e de atletismo. A festa inaugural deste clube teve lugar em 02-09-1906, com um "Festival" que incluiu provas velocipédicas, corridas e gincanas. As gincanas (corridas de fitas, negativas e de púcaros) realizaram-se na Quinta da Feiteira, amavelmente cedida pelo seu proprietário, o Exm.º Sr. César de Figueiredo.

Em 26-05-1907, o GSB tomou oficialmente posse do terreno na Quinta da Feiteira, paralelo à estrada de Benfica, passando, assim, a dispôr de um campo para festivais desportivos e jogos de futebol (com uma frente de 120 metros e uma largura de 79 metros), por 20 mil réis (20$00) por semestre. Inaugurou-se este campo em 14-07-1907 - acto integrado no programa comemorativo do 1.º aniversário da fundação do GSB. O espaço foi sofrendo ligeiros melhoramentos, principalmente o terreno de jogo, com o objectivo de o tornar aplanado e sem irregularidades.

O Grupo Sport Lisboa (GSL) - o SLB na sua fase embrionária - não tinha campo em Belém (zona onde nasceu), mas, como alguns dos seus associados eram também sócios do GSB, sabiam da existência do seu campo que, apesar da qualidade, não era utilizado para futebol. Assim, em 24-11-1907, o GSL actou pela 1.ª vez na Feiteira, embora ainda fosse considerado campo neutro. Nesse encontro, a contar para o Regional de Lisboa, venceu o Internacional (CIF), por 1-0.

Meses depois (em Março de 1908), o GSB muda o nome para Sport Clube de Benfica. Em 13-09-1908, após a absorção das estruturas do GSB (associados, dirigentes, sede e instalações desportivas), o "Glorioso" Sport Lisboa acrescenta Benfica ao nome, por influência do local para onde se transfere, passando, então, a designar-se de Sport Lisboa e Benfica (SLB) e a utilizar o campo da Quinta da Feiteira.

Em 04-11-1908, numa reunião de Direcção, foi resolvido contactar o proprietário, César de Figueiredo, com o objectivo de obter dele uma autorização para realização de obras, consideradas indispensáveis para melhorar as condições do espaço. Com o financiamento do presidente da Direcção, João José Pires, pretendia dotar-se o campo de bancadas e construir-se uma sede. E porque o arranjo deveria ser importante, pedir-se-ia, também, um contrato de arrendamento por um prazo mínimo de 10 anos.

O resultado desta diligência foi comunicado pelo próprio presidente da Direcção. O dono do terreno não faria o arrendamento por dez anos, devido ao facto de o terreno estar destinado, pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), a um parque. Mas, caso a CML não resolvesse, a curto prazo, dar início ao seu projecto, o sr. César de Figueiredo venderia o terreno (avaliado em 60 contos), para construção de casas. A confirmar-se ser esta a solução, o mesmo proprietário daria preferência ao clube, fazendo o arrendamento, a longo prazo, da parte do terreno onde se encontrava o campo, avaliado em 20 contos (20 milhões de réis!). Desta forma, a renda seria de 4 por cento ao ano sobre aquela importância, ou seja, 800 mil réis (800$00).

A informação provocou a todos grande preocupação. Restabelecida a serenidade, o vice-presidente da Direcção, Alfredo Alexandre Luís da Silva, afirmou que a renda era "pesada", sendo por isso insustentável para os recursos financeiros da colectividade. A Direcção teria de abandonar a ideia de promover quaisquer melhoramentos no campo da Feiteira, para procurar, na área de Benfica, um terreno que oferecesse condições para a construção de um campo de jogos, digno de um clube já com grande projecção no movimento desportivo da Capital.

Para o novo campo reservar-se-ia o projecto antes elaborado para as obras na Feiteira. Afinal, durara pouco tempo o convencimento de que o problema da falta de campo privativo se havia resolvido por completo com a ida para Benfica (Feiteira). Não foi possível continuar nesse local. Porém, durante 3 épocas (de 1908/09 a 1910/11), realizaram-se, na Quinta da Feiteira, grandes jogos de futebol, que movimentaram multidões e que ajudaram o Benfica a consolidar a sua popularidade e o seu palmarés desportivo.

A primeira grande vitória do Clube foi imposta ao Carcavellos Club, no seu campo (2-1) - a formação dos ingleses estava invencível há 9 épocas (!), desde 1898. Depois de nos termos afirmado como o melhor clube de portugueses, passaram a chamarmo-nos "Glorioso"... até hoje!! Apesar de, nesse jogo, não se ter verificado uma grande afluência de público, a notícia correu célere entre os desportistas de Lisboa, que começaram, assim, a acorrer aos nossos jogos, sempre na ânsia de ver nova vitória retumbante - o que fez com que, na Quinta da Feiteira, houvesse sempre muitos espectadores.

Em 09-01-1910, cerca de 8000 pessoas assistiram ao jogo entre o "Glorioso", que estava a fazer uma temporada sensacional, e o Carcavellos Club, invencível há 3 anos (desde o tal jogo de 10-02-1907). Voltámos, então, a derrotar os "mestres ingleses", desta vez por 1-0, naquela que foi a nossa 2.ª vitória sobre esse clube mítico da história do futebol português! Conquistámos, também, pela primeira vez, um título oficial de campeão regional em 1.ª categoria - o primeiro de muitos e muitos títulos conseguidos ao longo da nossa história. O prestígio e a popularidade do nosso Clube cresciam sem parar e, devido à localização da Feiteira (junto à igreja de Benfica, no bairro com a mesma denominação), o nome Benfica começou a ser cada vez mais utilizado, em detrimento da apelidação Sport Lisboa.

Durante o ano de 1908 e seguintes, os dirigentes do nosso clube continuaram a procurar terrenos para instalar um campo, embora com resultados negativos. Em 1910, ainda se realizaram obras de conservação na Feiteira, no valor de 70 réis, graças a um donativo conseguido por acção da generosidade de alguns sócios. Ainda nesse ano, numa reunião realizada no dia 22 de Abril, o problema - que persistia, pedindo resolução urgente (o clube corria o risco de ficar sem campo) - voltou a ser fruto de análise cuidada. Mas a solução só viria a surgir em 1912, com o arrendamento, válido a partir do ano seguinte, do campo de Sete Rios. Foram quatro longos anos de dúvidas e de dificuldades, mas ultrapassadas...

Seria já com a perspectiva de mudar de local que o Benfica realizaria, em 22-05-1911, o seu último jogo na Quinta da Feiteira e, ao mesmo tempo, o primeiro jogo internacional da sua história. O adversário (Francês) foi o Stade Bordelais Université Club. Era o adeus à Feiteira e a Benfica, onde o Clube ganhou especial projecção, arrastando multidões, difundindo a sua popularidade e sobrepondo à designação de Sport Lisboa a força do nome BENFICA. Aí disputámos 22 jogos, traduzidos em 14 vitórias, 3 empates e 5 derrotas; 56 golos marcados e 18 golos sofridos.

Actualmente, os terrenos onde se situou o recinto estão ocupados por prédios e quintais, entre a Estrada de Benfica e a Rua Emília das Neves, já que o destino da Quinta da Feiteira foi, efectivamente, a urbanização, com a criação duma nova rua (Emília das Neves), que se localiza exactamente numa das linhas laterais do antigo campo.



‡ Curiosidades, Dados Estatísticos e Marcos Históricos ‡

Nome: Campo da Feiteira

Inauguração: 14-Julho-1907

Localização: Quinta da Feiteira (em frente à Igreja de Benfica)

Situação Actual: Prédios e respectivos quintais entre a Estrada de Benfica e a Rua Emília das Neves

Tipo de Propriedade: Terreno Alugado por 40 mil réis (40$00)/ano pagos ao semestre

Superfície aproximada da área: 9600 m2 (120m x 79m)

Resultados Totais (de 26-05-1907 e 31-12-1911):  Total de 22 jogos. 14 vitórias, 3 empates e 5 derrotas; 56 golos marcados e 18 golos sofridos 


Alguns dos resultados mais expressivos:

25/10/1908 - Vitória de 2-0 sobre o Sporting CP
Obs.: 1.º jogo para o Regional de Lisboa, utilizando o campo para jogar em casa

10/01/1909 - Vitória de 4-0 sobre o Ajudense FC
Obs.: "Record" de assistentes a um espectáculo desportivo em Portugal até então = 1.000 pessoas

28/02/1909 - Vitória de 5-0 sobre o S.U. Belenense
Obs.: primeira goleada por 5-0

23/01/1910 - Vitória de 1-0 sobre o Carcavellos Club
Obs.: 2.ª vitória sobre o clube dos "mestres ingleses" e "record" de assistência em Portugal até então: 8000 pessoas

09/04/1911 - Vitória de 15-0 sobre o Lisboa FC
Obs.: a contar para o Campeonato Regional de Lisboa


 

segunda-feira, 14 de junho de 2010

História dos Estádios: Capítulo II

Hoje continuamos a História dos Estádios com o segundo capítulo - Terras do Desembargador.
No final deste capítulo ficam uns dados estatísticos, algumas curiosidades e alguns marcos importantes, porque históricos, para o nosso Glorioso Clube.


História dos Estádios:
Capítulo II - Terras do Desembargador (1904 a 1906)

As Terras do Desembargador foram um espaço desportivo fundamental para a evolução do futebol em Lisboa e em Portugal. Como Benfiquistas, não podemos deixar de lhe atribuir um carinho muito especial, pois foi aí que nos iniciámos e nos tornámos... ganhadores!

No final do séc. XIX, Os grandes jogos de futebol disputavam-se nos terrenos públicos das Terras do Desembargador, junto ao Convento das Freiras Salésias, em Belém, isto após o início da construção, em 1892, da Praça de Touros do Campo Pequeno, que era, até essa data, o local de eleição para os jogos de futebol realizados na Capital.

Ainda que esporádicos e sem calendário pré-estabelecido (anunciados em "desafio" nas páginas da imprensa lisbonense da época), os jogos de futebol atraíam às Salésias alguns desportistas, mas principalmente a miudagem. Em domingos de jogos, a pequenada de Belém e os casapianos do Restelo "caíam em cima das quatro linhas" na ânsia de ver jogar futebol, mas principalmente para verem quem vencia - se o que desafiava ou o que era desafiado. Depois imitavam os "heróis", nas ruas ou no pátio da Casa Pia.

Foi nesses terrenos que, em 13-12-1903, o Grupo de Belém, composto pelos três irmãos Rosa Rodrigues (conhecidos por Catataus) e os seus vizinhos da Rua de Belém, reforçados com ex-casapianos "bons de bola", venceram por 1-0, no jogo-desforra, o Internacional (CIF), considerado na altura o melhor grupo português de futebol (ainda que nele actuassem, também, jogadores ingleses).

No almoço que se seguiu ao triunfo, foi proposto fundar um clube... só com portugueses! A vitória, que provocou grande alvoroço em Belém, levou à intensificação dos treinos, ao estreitar de relações entre os rapazes de Belém e os ex-casapianos e, alguns meses mais tarde, à criação do nosso clube (28-02-1904). Após a fundação, na área de Belém, as Terras do Desembargador foram um dos locais onde se realizaram os primeiros treinos e onde se efectuou o primeiro jogo do nosso clube (01-01-1905), em que vencemos o Grupo de Campo de Ourique, por 1-0.

Continuámos a jogar nas Salésias, mas, com o crescimento do clube, em associados e popularidade, fazia-se sentir cada vez mais a necessidade de possuirmos "campo próprio". Uma das primeiras medidas da 1.ª Direcção, eleita a 22-11-1906 e presidida pelo Dr. Januário Barreto, ocorreu na 2.ª reunião, a 07.02.1907, em que se deliberou "adquirir um campo atlético privativo do clube".

Em pouco tempo, os jogadores do Benfica eram considerados os melhores que havia em Portugal e os únicos com categoria para "dar réplica" aos mestres invencíveis do Cabo Submarino, o Carcavelos Club. No entanto, não tinham boas condições para treinar e jogar. As estruturas das Salésias eram muito rudimentares. Como eram terrenos públicos, serviam vários fins, entre os quais exercícios de soldados e cavalaria dos regimentos militares de Belém, o que deixava frequentemente o piso em muito mau estado.

Por outro lado, os espectadores incomodavam muitas vezes os jogadores, sobretudo a "soldadesca" que assistia a treinos e desafios, visto que o campo constituía a cerca de um quartel. Este panorama era muito desagradável, sobretudo para alguns atletas do nosso clube, que também eram militares e de patente mais elevada... Com o desenvolvimento das suas capacidades futebolísticas, a par da afirmação profissional, não agradava aos nossos jogadores andar com equipamentos às costas e por balneários ao ar livre, sem comodidade nenhuma - "já não tinham idade nem posição social para rapaziadas".

Com a garotada a assistir, bola que saísse fora das "quatro linhas", era uma trabalheira para a trazer de volta ao campo, pois a rapaziada apanhava-a e queria brincar com ela. Havia, também, o perigo de alguns espectadores correrem pelo campo, provocando acidentes entre eles e os jogadores. António Rosa Rodrigues chegou mesmo a fracturar um braço, tendo, na sequência do acidente, partido a perna a um rapaz que atravessou inadvertidamente o terreno de jogo. O incidente provocou a intervenção da Polícia, tendo o nosso atleta prestado contas na esquadra de Belém, já que os terrenos eram públicos e deviam ser utilizados "com urbanidade", ou seja, de modo a não serem provocados desacatos. Havendo acidentes, teria de se responder por eles.

Com dificuldade em conseguir espaços em Lisboa para praticar futebol, o nosso clube, na temporada de 1906/07 - a 3.ª da nossa história desportiva -, utilizou, como os restantes clubes da cidade, campos alheios para jogar futebol. Entre estes, contavam-se a Quinta Nova, em Carcavelos (o único campo atlético privado em Portugal, que pertencia às instalações do Cabo Submarino e onde jogava o Carcavellos Cricket and Football Club - utilizado para o futebol desde os anos 90 do séc. XIX) e o campo da Cruz Quebrada, pertencente aos ingleses do Lisbon Cricket Club, que também praticavam futebol.

O clube continuou a procurar terrenos na área de Belém. Todavia, por não existirem espaços ou pelo facto de os arrendamentos serem demasiado dispendiosos, nunca foi possível conseguir o tão desejado campo próprio, nem mesmo fora de Belém. A solução viria a ser encontrada em Benfica, onde existia um clube - o Grupo Sport de Benfica -, que tinha um razoável campo de jogos, na Quinta da Feiteira, apesar de não possuir bons jogadores de futebol.

Nas Terras do Desembargador, terreno neutro, disputámos 6 jogos, em que somámos 5 vitórias, e um total de 13-2 em golos. Actualmente, estes terrenos estão integrados, devido ao alargamento das instalações, na "parada" do Quartel das Oficinas Gerais de Material de Engenharia, do Exército, a norte da Rua do Embaixador, entre a Travessa das Zebras e a Rua Alexandre de Sá Pinto.



‡ Curiosidades, Dados Estatísticos e Marcos Históricos ‡

Nome: Terras do Desembargador

Localização: Nas Terras das Salésias, a norte da Rua do Embaixador, entre a Travessa das Zebras e a Rua das Freiras Salésias

Situação Actual: Parada do Quartel das Oficinas Gerais de Material de Engenharia (Exército)

Tipo de Propriedade: Terrenos Públicos

Resultados Totais (de 01/01/1905 a 28/01/1906): Total de 6 jogos. 5 vitórias, 0 empates, 1 derrota, 13 golos marcados e 2 golos sofridos


Alguns dos resultados mais expressivos:

13/12/1903 - Vitória de 1-0 sobre o Clube Internacional de Futebol.
Obs.: Foi após este jogo (desforra) - entre o CIF e um misto composto por jogadores do Grupo de Belém (os Catataus) e da Associação do Bem (ex-Casapianos) - que se decidiu formar o Glorioso S.L.BENFICA

01/01/1904 - Vitória de 1-0 sobre o G. Campo de Ourique.
Obs.: 1.º jogo (desafio) do nosso clube. O Grupo de Campo de Ourique era considerado uma das melhores equipas. Dava-se início à popularidade do S.L.BENFICA

23/04/1905 - Vitória de 6-0 sobre GF Estephania.
Obs.: 6.º jogo do nosso clube (e 5.º neste campo) e a 1.ª goleada da história do S.L.BENFICA

28/01/1906 - Vitória de 2-1 sobre o Clube Internacional de Futebol.
Obs.: 2.º jogo (e 1.ª vitória como S.L.BENFICA) com o Internacional, considerado o melhor grupo misto (portugueses e ingleses) a jogar em Portugal


domingo, 13 de junho de 2010

História dos Estádios: Capítulo I

Aproveitando o "defeso" vamos a partir de hoje dar início, aqui no blogue, a uma autêntica epopeia sobre a História dos Estádios do nosso Glorioso, o Sport Lisboa e Benfica.


Hoje deixamos o 1.º capítulo da epopeia - A Introdução.
No fundo é uma síntese ou resumo dos vários capítulos que aqui iremos postar nos próximos dias.
Esperamos que gostem e que participem. Obrigado.





Capítulo I - Introdução

A história dos campos de jogos do Benfica é uma odisseia dentro da Gloriosa história do clube. A utilização de variados espaços, ao longo do séc. XX, em diferentes lugares da cidade de Lisboa, encerra um pouco daquilo que tem sido a caminhada do Benfica rumo ao centenário. A biografia dos campos assina uma página brilhante na história do Clube, paradigmática do modo como cresceu o Benfica.

Quando o Benfica nasceu, em 28/02/1904, não possuía ainda terreno de jogos. Fundado por alguns dos melhores futebolistas Portugueses da época, mas sem grande capacidade económica, o Clube começou por utilizar os terrenos públicos das Terras do Desembargador, nas Salésias, onde já se jogava futebol desde 1892 e que era, para o efeito, no final do séc. XIX e início do séc. XX, o local mais utilizado em Lisboa. Foi neste espaço que os primeiros jogadores do Glorioso se iniciaram no "desporto-rei", numa primeira fase como espectadores e posteriormente como jogadores. Após as épocas de 1904/05 e de 1905/06, a degradação do piso, bem como a falta de condições para espectadores (bancadas) e jogadores (balneários), levou o Benfica a deixar de utilizar o terreno.

Sem conseguir obter um espaço próprio, apesar de o ter tentado com insistência, o Benfica jogou, na época de 1906/07, nos únicos campos que eram disponibilizados para a prática do futebol na região de Lisboa: em Carcavelos e na Cruz Quebrada. Na época de 1907/08, continuou a utilizar os campos existentes em Lisboa, mas, com a inauguração do campo na Quinta da Feiteira, na zona de Benfica, passou a utilizar estas instalações, ainda que, inicialmente, na condição de campo neutro. O Clube possuía, então, uma super-estrutura (equipa excelente) mas faltava-lhe a infra-estrutura (terreno próprio) que permitisse aos jogadores desenvolver a sua actividade.

No início de 1908/09, com a absorção das estruturas (campo atlético, sede e orgãos sociais) do Sport Clube de Benfica (titular da Feiteira), o excelente grupo de jogadores de Belém passava, finalmente, a possuir um campo de jogos, onde se manteve até 1910/11. Todavia, a incapacidade de pagar o arrendamento inviabilizou a continuação em Benfica, com o clube a utilizar, nas épocas seguintes, dois campos de clubes adversários: em 1911/12, o campo de Palhavã, propriedade do SC Império, e, na temporada seguinte (1912/13), o campo das Laranjeiras, propriedade do Internacional (CIF).

Finalmente, após duas temporadas, o Benfica utilizava de novo um campo próprio - Sete Rios - construído num terreno alugado, a Quinta Nova, onde esteve durante 4 temporadas (1913/14 a 1916/17), transferindo-se depois para um espaço que oferecia melhores condições, mas também porque sentia dificuldades em acompanhar (uma vez mais...) o aumento da renda. O campo localizava-se na Quinta de Marrocos, em Benfica, nas traseiras da sede, situada na Avenida Gomes Pereira. Alugou e utilizou este espaço entre 1917/18 e 1922/23, ou seja durante 6 épocas. Desta vez, foi obrigado a sair devido ao facto de o local onde se encontrava o campo ter sido requerido para construir uma rua.

Na temporada de 1923/24, havia falta de campos na cidade, com os jogos a serem disputados em apenas dois redutos: Palhavã (propriedade do Império Lisboa Clube) e Campo Grande (propriedade do Sporting). Na época de 1924/25, o Benfica voltou a ter "casa emprestada", o campo de Palhavã, que utilizou até à conclusão das obras de construção do Estádio das Amoreiras, um grande empreendimento, apenas possível graças à vontade e ao clubismo dos associados.

Do nada construiu-se um grande estádio, onde permaneceu durante 15 épocas, entre 1925/26 e 1939/40. Porém, uma vez mais por motivos de expansão urbana da cidade, o campo foi sacrificado para construir uma via de acesso ao viaduto de Monsanto (actual Duarte Pacheco).

Na época de 1940/41, utiliza como "campo próprio" três instalações, de outros clubes. Faz 1 jogo nas Salésias, propriedade do Belenenses, 5 no Lumiar-A (Unidos FC, de Lisboa) e 10 no Lumiar, onde jogava o Sporting. Isto enquanto eram preparadas as novas instalações no Campo Grande. Foi neste recinto que jogou 13 temporadas, de 1941/42 a 1953/54. Ainda antes de abandonar o Campo Grande (a estadia era precária - arrendamento das instalações à Câmara Municipal de Lisboa), gerou-se dentro do Clube a opinião de que se devia procurar um espaço amplo, onde fosse possível construir um campo privativo, o que veio a ter expressão entre Carnide e Benfica (Estádio da Luz). Foi uma campanha gloriosa, com contribuições em dinheiro, géneros (para leiloar) e trabalho, de milhares de Benfiquistas espalhados por todo o Mundo.

Em pouco mais de meio século (inauguração em 01-12-1954), o Benfica conseguiu, através dum esforço gigantesco, transformar o seu Estádio no melhor de Portugal e num dos maiores do Mundo.

A 25 de Outubro de 2003 foi inaugurado um novo estádio com capacidade máxima para 65647 espectadores. No jogo da inauguração o Benfica jogou com a equipa uruguaia do Club Nacional de Football em que venceu por 2-1, com Nuno Gomes a marcar os dois golos benfiquistas.