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segunda-feira, 16 de julho de 2007

O POLVO (7ª Parte)



Tal como prometido, estão de volta os textos que abalam o futebol português...

Continuação...

“(...) Joaquinas Teixeira foi um jogador muito discreto. O melhor que conseguia era de quando em quando, partir a perna ao melhor jogador da equipa contrária. Para compensar a falta de talento, tomava mais duas pastilhas que as aconselháveis e injectava-se por conta própria, ao ponto de um dia, o médico do clube o ter aconselhado a parar com aquilo, pelo menos, durante 24 horas, sob o risco de bater a bota. Joaquinas Teixeira era tão ambicioso como tosco. É certo que acabou a carreira aos 30 anos e com a calvície a pronunciar-se, mas terminou-a em beleza: com uma boa conta bancária e um chorudo cheque por ter derrubado um adversário na área de rigor, proporcionando uma grande penalidade que salvou a equipa contrária da descida de divisão. O lance não causou qualquer tipo de suspeitas, pois o Teixeira era mesma assim - às vezes acertava, outras não. Mas a história de Teixeira pouca relevância teria na história da vida de Galo da Costa, se o primeiro não acabasse por se tornar um grande amigo do segundo, depois de ser apresentado por Antónimo Oliveira. Rapidamente se gerou ali alguma cumplicidade, não faltando a adorná-la o habitual naipe de mulheres da vida, desde a classe de iniciadas até às seniores em fim de carreira. Para ajudar, o País vivia uma ascensão económica que tinha os dias mais ou menos contados, mas que iria ser boa enquanto durasse. Com o Teixeira a controlar as miúdas e o Antónimo Oliveira a dar a táctica, GC tinha a vida nocturna que queria, mas, ao contrário de Reginaldo, continuava muito agarrado ao dinheiro, não o arriscando na roleta. Esta última acabou por se revelar a desgraça de Reginaldo, que aí foi deixando largas centenas de contos, proporcionando também a um conhecido jornalista algumas jogadas de risco, em especial quando a equipa se deslocava à Madeira. Sempre adiantados dois passos em relação aos restantes, Antónimo Oliveira foi-se afastando do grupo, mas nunca se desligou. Joaquinas Teixeira, entretanto, leu dois livros policiais e começou a falar como um doutor, deixando de ser adjunto do Antónimo - então um treinador de mediano sucesso - para se tornar técnico principal. O conhecimento que tinha da arte das pastilhas acabou por se aliar a um feeling muito especial e, rapidamente, enquanto ia esvaziando o stock de uma farmácia próxima de Paredes, conheceu o sucesso. -O futebol é um espanto. Ainda ontem estava a queimar o couro nos pelados e hoje eis-me a fumar um charuto e a dar bitaites para os jornais! - dizia Teixeira para a mulher, enquanto apreciava as miúdas que se passeavam no areal de Cancún, onde uma conhecida apresentadora de televisão fazia discretamente amor com dois jovens craques que nesse ano tinham surgido na ribalta. -Chegou a hora de começar a apanhar peixe graúdo, pois estou farto de andar aos figos! - desabafou, longe de saber que nesse momento, GC tinha engendrado mais um plano diabólico.
O plano era simples e partia do seguinte pressuposto: no futebol, nem só os jogadores são a mercadoria: há que contar também com o treinador. -E os treinadores, Reginaldo, é que marcam golos ou os permitem! - referiu GC, merecendo o assentimento de Reginaldo. -Vai ser canja - continuou o presidente. Fulano precisa de clube, e nós arranjamos esse clube, a quem damos a garantia de que, com aquele treinador, é que a equipa não desce; não sendo preciso dizer mais nada, eles ficam logo a saber que nós seremos os anjos-da-guarda. -E o que é que nós vamos ganhar com isso, presidente? -Tudo. Começamos por ganhar nos treinadores, que nos vendem a alma para o quef or preciso. Depois, ganhamos com os clubes que os contratam, que também nos ficam a dever favores. Mas não é tudo. Para além de eventuais comissões que virão directamente para os nossos bolsos, os bons jogadores que aparecerem nesses clubes ficam garantidos para o nosso lado e aqueles que forem excedentários do nosso plantel podem ir asilar para esses clubes, o que nos desobriga logo de lhes pagar os ordenados. Isto é o ovo de Colombo. -De quem? -De Colombo, do tipo que descobriu a América. Não julgues que também ele não enganou os Espanhóis. No fundo, era de Génova. O Cristovão... -Quem? O da televisão? -Não, burro, o Cristovão Colombo, e repara que até ele se enganou, pois pensava que estava a descobrir o caminho para Índia quando descobriu a América. Foi o que medisse a Nancy, a nova, aquela que trabalhava num videoclube... -E que tal? -Para o Colombo não correu mal... -Não presidente, que tal a Nancy? -Ah, a Nancy!...boa, sabe aquelas coisas dos filmes... -...o beijo pressionado?! -Qual beijo pressionado, qual quê! Aquelas coisas mais complicadas. Mas não desconversemos. Quero que fique assente que a partir de hoje temos de formar um lobby... -Ó chefe, mas isso compra-se com dólares ou com pesetas?!... -Calado - prosseguiu, já algo irritado, Galo da Costa. Vai ser assim: andam por aí uns rapazes com talento, alguns até foram nossos jogadores, mas os clubes são mais que muitos e as melhores oportunidades normalmente são dadas aos treinadores estrangeiros. Vamos acabar com isso. A nossa garantia vai abrir os olhos aos clubes, que passarão a perguntar-nos que treinador é que podem contratar. Nós é que o escolhemos, percebes? Mas o rapaz que for escolhido já sabe que nos deve não um, mas muitos favores, entendes? Para além de passarmos a controlar o que já sabes, ficamos também com a certeza de que eles farão tudo para derrotar os nossos adversários directos, enquanto que nos jogos com a nossa equipa!... percebeste agora? -Mas, ó presidente, isso é genial! -Claro... O plano foi posto em marcha logo nessa temporada, tendo como cabeça de fila o Joaquinas Teixeira, também conhecido por «Fixe». Os clubes da região caíram nas palminhas de GC, só um deles desceu por manifesto azar, e os adversários directos, por norma, tramaram-se nas deslocações aos terrenos das equipas controladas. Como se tal não bastasse, GC foi pedindo alguns adiantamentos ao longo da época aos presidentes mais abonados, que ficavam satisfeitos só pelo facto de surgirem ao lado de GC ante as câmaras dos repórteres-fotográficos. Um deles, o Manuel Clopes Rodriguez, até se deu ao luxo de reunir na sua quinta os mais ricos empresários da região, com estes, a troco de um galhardete autografado, a entregarem nas mãos de GC uma generosa quantia «para ajudar o clube mais representativo da região».
Na altura, alguns jornalistas ainda tentaram investigar uma história que podia ser o fio da meada ou o fim da picada. Era a história de um jogador belga (Cadorinas) que, nos minutos finais de um jogo no estádio do clube grande, entrou em campo, ao que se supõe, apenas para, na sua área, provocar uma grande penalidade, jogando a bola com a mão e dando assim a possibilidade à equipa da casa de vencer o jogo e não se atrapalhar na corrida para o título. O jogador desapareceu de circulação, e a última vez que foi visto foi a fazer compras em Roterdão, supondo-se que hoje vive desafogadamente numa quinta dos arredores de Liège, onde todos os anos, pelo Natal, recebe um perú com uma mensagem de GC. E o Teixeira? De subida em subida, foi até onde pôde. Depois, claro, já não podia subir mais. GC tinha encontrado um livro num caixote cujo autor era um tal doutor Peter, defensor dos princípios de competência. -Reginaldo, isto é assim: tu só és competente até determinado nível; se o ultrapassares, passas a ser um incompetente, percebes? Reginaldo mais uma vez não percebeu bem, pois, como ele mesmo dizia, tinha uma cabeça que trabalhava a «carvão». -O Teixeira é bom nestas coisas. Quanto muito, posso arranjar maneira de o pôr a treinar a selecção de sub-12, se é que isso o realiza. Mais é que não. Fica onde está e caladinho, e isto é se quer continuar a passar férias a Cancún. O Teixeira concordou, apenas com um pedido. No final da próxima época, preferia ir de férias para as Seychelles!
O bar de Reginaldo começou a ser ponto de encontro para aqueles que queriam usufruir dos favores da arbitragem. Dirigentes e árbitros encontravam-se assiduamente no local, mas nunca tinham um contacto directo, uma situação que foi sempre muito bem controlada, para que não houvesse fugas de informação, tanto em relação a favores como aos preços estipulados. Lentamente, foi criada uma bem organizada rede de corrupção na arbitragem gerida, por cima, por Reginaldo Teles, contando este com um assistente directo: George Gomes. Os árbitros das mais variadas regiões, logo que pisavam o chão da cidade, iam de imediato ao encontro de Reginaldo. Não pediam nada, e muito menos ofereciam qualquer tipo de favor; aguardavam antes, pacientemente, por uma abordagem. No início, estabeleceu-se uma certa confusão promíscua no negócio, e esta situação não era a mais aconselhável. As pessoas começavam a falar de mais, pois já nada passava despercebido, e Reginaldo Teles teve de reorganizar o negócio, colocando as cartas na mesa de Galo da Costa. -Eles parecem moscas a cair no meu bar. A coisa já está a dar muita bronca. -Que coisa? -Aquele negócio dos árbitros. Começou a insinuar-se que eu era capaz de resolver tudo, e os gajos não me largam. São os dirigentes de um lado e os árbitros do outro. Nunca pensei que esta situação pudesse atingir este nível. Uns só querem vitórias; e osoutros, dinheiro... -Deixa lá. Ao menos, fica toda a gente satisfeita. Esse negócio tem de começar a ser gerido de uma forma mais segura. Isso vai dar muito dinheiro, mas é necessário saber fazer as coisas. Roma e Pavia não se fizeram num dia. Estava dado o mote para o arranque de uma organização mais capaz e eficiente, e o plano foi colocado em marcha. Havia receptividade de parte a parte e isso já era um bom avanço. O tempo em que o clube gastava dinheiro para controlar algumas arbitragens já tinha passado. Os árbitros sabiam exactamente onde estava o poder e como se chegar a ele, e se em paralelo se podia ganhar dinheiro, muito melhor. Galo da Costa estava consciente de que todos o temiam. Não tinha o mínimo de pruridos quando queria esmagar um inimigo. Não fazia ameaças, mas os que se mostrassem contra o seu poder podiam ter a certeza de que obteriam uma resposta de acordo com a situação e sem qualquer tipo de contemplações. Perante tal quadro, era muito mais proveitoso estar ligado a Reginaldo Teles. Para além do dinheiro que podiam ganhar, tinham toda a cobertura possível dentro do Conselho de Arbitragem, área onde Galo da Costa e os seus pares se moviam com bastante à-vontade, contando com a colaboração de um presidente da sua inteira confiança. Galo da Costa gostava de evidenciar de uma forma discreta esse poder. Era uma forma de fazer saber que quem mandava era ele. Quem estivesse sob a sua protecção tinha as melhores nomeações e as melhores classificações. E protegia quem se aliasse a ele, incentivando a aproximação dos mais indecisos.
GC queria uma organização perfeita e o controlo absoluto sobre todas as situações. Mas os jornalistas eram indiscretos e perigosos para o negócio. Não era muito saudável que se levantassem muitas suspeitas, e esse sector tinha também de começar a ser muito bem controlado. Galo da Costa sabia insinuar-se e cativar. Quando lhe convinha, promovia encontros com directores de jornais e, de uma forma desinteressada, começava a gabar-lhes os feitos e o trabalho. Incentivados pela guerra estabelecida pela concorrência e sabendo que quem obtivesse maior número de informações junto dos grandes clubes era quem mais vendia, ninguém se negava a esses encontros. Era impossível, porém, controlar toda a gente e, através de algumas acções de intimidação, estabeleceu-se um clima de medo para os que teimavam em mostrar-se independentes. Normalmente às quartas-feiras, o presidente reunia-se com os jagunços e indicava-lhes qual o jornalista que tinha de ser encostado e insultado. Nos dias dos jogos, os capangas passeavam livremente pelo camarote da Imprensa e, através de insultos e ameaças, exerciam uma tremenda pressão sobre alguns jornalistas. A intenção era clara: promover o medo e o consequente silêncio. Durante a semana, quem tivesse o atrevimento de não analisar uma situação conforme lhes convinha podia ter a certeza que tinha à sua espera na primeira oportunidade alguém com o seu jornal na mão a ameaçar que o fazia engolir aquele pedaço de papel. Galo da Costa era mestre na política da divisão, e ao longo dos tempos foi criando divisões entre os jornalistas, porque tinha consciência do perigo que representavam quando todos se resolvessem unir e impor os seus direitos. A organização era-lhe favorável, e ele sabia como jogar todos os seus trunfos. Um negócios implantado no seio da arbitragem era exactamente aquilo que lhe faltava. A Olivedesportivos e a agência de viagens Cósmicas estavam a facturar como nunca. Tinha conseguido vários exclusivos que lhe permitiam efectuar o mais variado tipo de operações, sobrefacturando sem medo de poder ser contestado. Tinha o presidente federativo na mão, e até nem foi muito difícil conseguir isso. Dava-lhe gozo colocar os da capital a trabalhar para a sua organização. Um cartão de crédito sem limite e umas viagens oferecidas ao casal que comandava as operações federativas bastaram para que pudesse facturar alguns milhões. Galo da Costa estava adiantado em relação a todos os outros. Já há muito que tinha entendido que o futebol era a indústria que mais rendia em 90minutos. Mas GC não era infalível. Também cometia os seus erros. Quando, através do agora grande amigo e sócio camuflado, Joaquinas Oliveira, ofereceu um cartão de crédito sem limite ao federativo e à sua mulher, nunca lhe passou pela cabeça que a mulher deste, numa das viagens da nossa Selecção, se lembrasse de utilizar o respectivo cartão em compras pessoais, gastando quase dois mil contos. O cartão foi de imediato cancelado. Numa viagem ao Luxemburgo, onde o clube de GC foi disputar um jogo particular, um emigrante português, que se dedicava à pintura de automóveis e também fazia uma perninha como empresário de jogadores de futebol, conseguiu criar uma grande amizade com GC e Reginaldo. O indivíduo tinha boa pinta e falava várias línguas. Era inteligente e mostrou-se conhecedor do ramo. E como era necessário preencher a vaga de Luigiano D´Onofrio, a solução estava mesmo ali à mão. Josef Veiga tinha todos os predicados para entrar na organização e, num ápice, apareceu em Portugal como sócio de Joaquinas Oliveira. Grandes jogadores começaram a passar pela sua mão. Ganhou prestígio, mas a sua ligação aos Oliveirais limitava a sua acção (...)”.


Continua...


Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

5 comentários:

Anónimo disse...

Grandes dotes de escrita. Realmente não sei quais as tuas fontes para todos estes factos mas se tudo isto é verdade então o futebol português está seriamente condenado ao fracasso.

Continua o bom trabalho.

Anónimo disse...

Faço minhas as palavras acima descritas. Tenho andado a seguir a história de forma quase apaixonante sem perder pitada.
Força nisso. Espero pelo próximo capítulo.

Anónimo disse...

os lamps nunca foram ás PUTAS.
ahahahahahahahahahahah

Anónimo disse...

Já fomos às PUTAS já! As PUTAS DAS VOSSAS MÃES!
Andrades de merda.

arrebumbas disse...

AHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!
Bem metida, anónimo das 5.43 PM bem metida. LOOOOOOOOOOOOOL