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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Miki, uma eterna saudade


No passado dia 25 de Janeiro fez 3 anos após a morte do saudoso Miklos Fehér, caído inanimado no estádio do Vitória de Guimarães durante uma partida entre o Benfica e o Vitória a contar para a primeira liga.
Miki, era assim que gostava de ser chamado.
Nunca é de mais recordar o menino alto e loiro nascido e muito adorado em Gyor, na Hungria. Miki será sempre recordado. Luís Filipe Vieira afirmou que ninguém mais vestirá a camisola 29 do Benfica, para sempre tua Miki. Após a sua morte, seguiram-se manifestações de solidariedade por todo o país, com os adeptos a levarem cartazes para o estádio homenageando Miki, uma estátua em seu nome foi inaugurada no estádio da Luz, golos dos companheiros do Benfica dedicados em seu nome (o último dedicado por Luisão frente ao Belenenses no Restelo, que após marcar o golo do Benfica dirigiu-se para os adeptos do Benfica, ajoelhou-se e ergueu os braços para o céu), entre muitas outras coisas.
Mais recentemente, os adeptos do Celtic de Glasgow no jogo em Lisboa para a liga dos campeões contra o Benfica, ofereceram um enorme pano em homenagem a Fehér. Um gesto muito bonito dos adeptos escoceses.
Voltando aquele dia fatal, recordemos alguns momentos para que fique gravado para a história e nada seja esquecido.
O Benfica entrava em campo necessitando de uma vitória num campo difícil e importante, e alinhava com o seguinte onze: Moreira, Miguel, Argel, Ricardo Rocha, Armando, Petit, João Pereira, Tiago, Zahovic, Simão e Sokota. O jogo sempre muito bem disputado e bem dividido foi para o intervalo a 0-0. Na segunda parte, o Benfica não conseguia criar perigo e então José António Camacho manda Miki para o aquecimento. Ninguém poderia imaginar que seria a última vez que Miki entraria em campo, lembro-me muito bem de o ver com Camacho a receber as ultimas instruções do treinador antes de entrar em campo, enquanto abanava com a cabeça dizendo que sim, tinha percebido tudo. Minuto 60, é então feita a primeira substituição no Benfica, Camacho colocava Miki em campo procurando mais poder ofensivo em troca com João Pereira, que sai apressado de campo, cumprimenta Miki e deseja-lhe sorte para o jogo… Sorte essa que infelizmente não viria a ter. O jogo manteve-se equilibrado, e ao minuto 75 sai Zahovic e entra Fernando Aguiar. O resultado mantinha-se nulo, e chega o minuto 90. O Benfica esgota as substituições, entrando Andersson para o lugar de Petit. 3 minutos de compensação. De repente, aparece o golo da vitória do Benfica, Simão cruza a bola da esquerda, Miki dá um toque abençoado na bola e Fernando Aguiar faz o último remate e golo do Benfica! Os adeptos respiravam de alegria, e previa-se uma noite de alegria e celebração. A um minuto do final do jogo, UM MINUTO APENAS, Miki tenta atrasar uma reposição de bola em jogo por parte da equipa do Vitória, Olegário Benquerença apita, corre para Miki e mostra-lhe o cartão amarelo. Miki esboçou um sorriso irónico, o sorriso que o despedia da vida, e logo de seguida o destino rouba-lhe a vida. Miki baixa a cabeça e cai sozinho inanimado… A tragédia abate-se sobre Guimarães. Sokota foi o primeiro a socorrer o companheiro, deitando-o de lado como tinha que ser, e logo de seguida juntaram-se Tiago, Miguel, Fernando Aguiar, Cléber e Djurdjevic ao lado de Miki. Quando se aperceberam da gravidade de situação, Fernando Aguiar e Tiago começaram aos saltos, gritando para o banco do Benfica tentando apressar a equipa médica. Olegário Benquerença manda entrar rapidamente as equipas médicas, e começam-se a juntar as duas equipas em redor de Fehér. Os médicos tentam a reanimação a Miki, e os jogadores ajoelham-se, chorando como crianças prevendo o pior. Imagens que nunca me sairão da cabeça, Simão de um lado para o outro, chorando e sem saber o que fazer, Tiago e Miguel ajoelhados com as mãos na cabeça chorando desesperados, os jogadores do Vitória abraçam-se aos do Benfica e choram com eles. A partir dali já não havia jogo nem rivalidades. Lutava-se para salvar uma vida, o resto era banal. Ricardo Rocha e Djurdjevic davam um forte abraço enquanto choravam os dois. No banco de suplentes, Camacho saltava de desespero tentando entrar em campo, mas o quarto árbitro João Vilas Boas não o deixava entrar. Camacho estava transtornado, e mais ficava cada vez que olhava para dentro de campo e via os jogadores com as mãos na cabeça. Mal o quarto árbitro virou costas, Camacho correu que nem uma flecha dirigindo-se para Miki e para a zona da confusão. Ao chegar ao local, Camacho começou a chorar que nem uma criança. Ao contrário do treinador espanhol, o seu adjunto Pepe Carcelén preferiu não ver. Ficou sentado no banco de suplentes, colocou as mãos na cabeça e ali ficou, desatou a chorar adivinhando o pior… Os outros elementos que estava no banco de suplentes do Benfica tiveram reacções distintas. Enquanto uns correram para a confusão, outros permaneceram no banco aguardando por um desfecho feliz.
Perante aquele desespero, as bancadas do Afonso Henriques gelaram e os adeptos uniram-se e gritaram a uma só voz «MIKI FEHÉR! MIKI FEHÉR!» enquanto os elementos do INEM tentavam a reanimação e esperavam pela ambulância. Por momentos, cresceu a esperança na rápida recuperação do jogador húngaro. Quando houve um pequeno sinal de recuperação, todo o estádio se levantou e saudou com palmas Miki, pensando que o jogador tinha recuperado. Os adeptos do Benfica prolongaram o grito de apoio ao jogador. A ambulância entra no relvado e os médicos põem Miki na ambulância e é transportado rapidamente para o hospital de Guimarães. Ficou a ideia que os meios técnicos disponíveis no momento não eram os melhores, e houve uma grande demora até a entrada da ambulância no relvado (que acabou por entrar de marcha-atrás), mas os médicos deram o seu melhor, e se Miki não recuperou foi porque o destino assim quis. Após a partida da ambulância, os jogadores consolavam-se uns aos outros, Camacho deu meia volta e dirigiu-se para o banco de suplentes, desfeito em lágrimas. Pegou numa toalha completamente encharcada que estava no chão e limpou o rosto. Olhou para o chão e fez um gesto com as mão, como que perguntando «Porquê? Como pode ser?». Minutos terríveis que fizeram esquecer tudo: os golos, os resultados, as rivalidades, os golos que ficaram por marcar, as infracções do árbitro, tudo…
Os jogadores das duas equipas, sempre juntos, seguiram para o Hospital Senhora da Oliveira, onde se encontrava Miki. Ás 23:33 era confirmada a morte do jogador do Benfica. Um desfecho triste e impensável, ninguém esperaria perder Miki naquela noite. Os elementos das duas equipas foram saindo do hospital, tristes e cabisbaixos… Os últimos a abandonar o hospital foram Alex, Cabral e Flávio Meireles, enquanto a equipa do Benfica fez-se á estrada rumo a Lisboa. E assim foi aquela trágica noite de 25 de Janeiro de 2004.

O que foi dito nos dias seguintes:
António Gaspar, ex-fisioterapeuta do Benfica: «Estou horrorizado, nem consigo falar.»
Octávio Machado «Quem o conheceu tinha por ele enorme admiração. Era um miúdo simples, simpático, amigo do seu amigo (…) estou já saudoso do Miklos.»
José António Camacho «O mais duro que me aconteceu no futebol. Pensei nas últimas palavras que lhe disse. Vê-lo deitado no chão e não poder fazer nada por ele, chorei de raiva e impotência».
Chalana «Assisti pela televisão, estou extremamente chocado. Não tenho palavras».
Beto, ex-Sporting «Era uma pessoa correcta e um jogador com fair-play. O futebol está de luto. É um trauma ver um colega de profissão falecer. Há coisas inexplicáveis na vida e esta é uma delas».
Hermínio Loureiro «Tudo foi feito para evitar este trágico desfecho. Resta-me enviar as condolências á família, á Hungria e ao Benfica».
Toni «Fehér sempre me pareceu um jogador lutador, embora nem sempre acompanhado pela sorte. No momento antes de morrer esboçou um sorriso, talvez irónico, que acabou por ser a sua despedida da vida»
Rodolfo Moura «Espanta-me uma morte destas e estou profundamente sentido com a morte do Fehér. Dele retenho a certeza de um indivíduo espectacular, um grande homem, respeitador como cidadão. Custa-me a crer que ele tenha desaparecido.»
Simão «Vamos dedicar o campeonato a Fehér»
L.F.Vieira «Ninguém mais vestirá a camisola 29 do Benfica».

Este post é dedicado ao Miki, uma homenagem a um grande homem que deixou muitas saudades. Para que nunca seja esquecido. Para escrever este post, tive que recorrer ao meu baú de recordações onde guardo carinhosamente imagens recortadas de jornais do dia 26 de Janeiro de 2004, textos, entrevistas, etc.
É hora de deixar rivalidades de lado, e todos juntos recordar este grande homem. Ainda hoje antes de todos os jogos, no balneário do Benfica se grita o nome de Fehér, recordando com respeito e saudade o antigo colega. O seu cacifo mantém-se como ele o deixou, com fotos e recordações de Miki. E assim será enquanto o Benfica existir.
Jamais serás esquecido, até sempre Miki.

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