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quinta-feira, 12 de julho de 2007

O POLVO (5ª Parte)

Continuação
”(...) Mas quando as derrotas surgem ou os resultados demoram a aparecer e as exibições não são as melhores, há sempre associados que contestam. No final de um jogo em que o clube tinha perdido, um associado, passando ao lado dos balneários, não se coibiu de lançar alguns insultos ao presidente e seus pares. -Filhos da puta, chulos, vão trabalhar! Galo da Costa, que estava de sobretudo e mãos nos bolsos, tendo a seu lado Reginaldo Teles e mais dois dirigentes de menor importância, todos rodeados por quatro capangas, deu de imediato uma ordem em surdina: -Fodam-me esse gajo! Os quatro capangas deram meia volta, seguiram o indivíduo até às imediações do estádio e deram-lhe uma sova, perante o olhar incrédulo das outras pessoas que não sabiam muito bem o que se estava a passar. Era a lei da força e do silêncio. O esquema estava montado, e dirigente que ousasse abandonar o clube e falar do que ouviu ou viu, sabia bem o que lhe poderia acontecer. O grupo de seguranças foi-se refinando alicerçado pela parcialidade e impunidade com que os próprios jagunços era tratados e alongou-se até alguns agentes de autoridade que não se importavam de ostentar as suas armas como forma de intimidação. Foi sobre esta onda de poder e segurança que Galo da Costa construiu o seu império e imperializou a sua própria imagem. Ele sentia-se um Al Capone à portuguesa, com a vantagem de não poder ser apanhado pelo fisco, pois não tinha rendimentos legais que justificassem qualquer tributação. Tinha, isso sim, o poder nas mãos e ficou ainda mais seguro disso a partir do dia em que se aliou a um bruxo muito conceituado em terras brasileiras que dava pelo nome de Pai Jójó (Delainei Vieira), um bruxo que não se limitava aos orixás, fornecendo também a equipa de futebol com frasquinhos de vidro que continham um guaraná em pó muito especial, esmagado por uma tribo de índios do interior do Brasil. O «speed», normalmente recomendado para os gulosos do sexo, ajudava os craques e, aliado à normal injecção de «vitaminas», tornava-os super-homens dentro do campo. E era certo que a aparelhagem do anti-doping estava completamente desajustada para detectar o que quer que fosse. Mas até este sector, a seu tempo, foi devidamente controlado. Entretanto, Reginaldo Teles não cessava a sua actividade, continuando a arranjar as melhores amantes para Galo da Costa e a dar-lhe toda a protecção. Rodeado de poder, mas ainda sem dinheiro, o presidente, como lhe chamava Reginaldo, tinha algumas limitações, mas nunca esqueceu o velho amigo Ilídio Pintas, a quem continuava a extorquir o dinheiro que queria para efectuar alguns negócios, sempre com a promessa de que um dia este viria a ser vice do futebol profissional. -É uma questão de tempo. Você tem de ter paciência. Necessito de si em lugares mais importantes para a vida do clube. Um dia o futebol será seu. Com estas palavras de Galo da Costa, o Ilídio Pintas lá ia passando uns cheques e cobrindo algumas despesas, porque fortuna pessoal foi coisa que nunca se conheceu ao presidente. O grande negócio acabaria por surgir. Um clube espanhol (Atlético de Madrid) interessou-se pela aquisição de Frutas, e o seu presidente resolveu vir a Portugal contactar o jogador, sem antes consultar o clube de Galo da Costa. Mas a organização, constituída por mais de uma dezena de guarda-costas, estava sempre bem informada de tudo quanto se passava na cidade e essencialmente dos assuntos que diziam respeito ao clube. Por isso, quando chegou a boa nova de que o presidente do clube espanhol estava em Portugal para falar com Frutas, foi de imediato colocado um plano de ataque em marcha, cujo nome de código era «Caça à Peseta». Apesar de Gilas y Gilas estar, no seu país, bem à altura de Galo da Costa, quando veio a Portugal estava muito longe de saber o que lhe ia acontecer. Chegou ao Porto e combinou encontro com um empresário, para avaliar a possibilidade de levar Frutas para Espanha. O bar era pequeno e decorado de uma forma simples. No fundo da sala, um pouco na penumbra, estava sentado Gilas y Gilas à espera do tal empresário quando irromperam pela sala dentro quatro indivíduos que, sem darem cavaco a ninguém, o rodearam e apertaram contra a parede, lançando o aviso: -Se voltas aqui sem primeiro falares com o presidente do nosso clube, podes ter a certeza que não sais daqui vivo. Na próxima, não há aviso! - rugiu Reginaldo, decalcando o final da sua declaração de um filme que tinha visto em Pinheiro da Cruz. Estas palavras foram ditas com tanta certeza e segurança que Gilas y Gilas quase se mijou pelas pernas abaixo. Fora a sua primeira lição como futuro presidente de um dos maiores clubes espanhóis. «Coño, em Portugal não se brinca», suspirou, ainda com as pernas a tremer como varinhas verdes. Gilas y Gilas não disse palavra, limitando-se a sair do bar e a enfiar-se na sua viatura, acelerando, sem olhar para trás, até Espanha. Gilas até se esqueceu de comprar um queijo da serra em Vilar Formoso, como prometera a Carmena, a sua amante de Madrid/Sul. Já no seu território, contactou directamente com Galo da Costa, e este, sem muitas palavras, indicou-lhe um interlocutor: Luigiano D´Onofrio. -O seu braço direito? - quis saber Gilas. -Mais ou menos, pois será ele a conduzir o assunto – informou GC. Gilas y Gilas ficou tão impressionado com a acção de Galo da Costa que resolveu oferecer um extra ao seu congénere português: uma vivenda em Madrid. -Sim senhor, mas numa zona fina, se faz favor – aceitou GC de pronto. Luigiano D´Onofrio entretanto colocou outro jogador (Rui Barrote) de GC num clube italiano (Juventus) e a soma da venda de Frutas e desse jogador vendido para Itália foi de 1 milhão e 200 mil contos, uma verba que GC nunca teria imaginado poder passar pelas suas mãos. De imediato, GC juntou todo aquele dinheiro e abriu uma conta particular, prometendo aos seus parceiros de direcção que aquela verba iria servir exclusivamente para a compra de jogadores para o clube. Todos acreditaram, mas esse dinheiro desapareceu como o fumo. Para amostra não ficou nem sequer um mísero escudo. As ligações de Galo da Costa com situações marginais começaram a ser comentadas, e isso criou um certo descontentamento entre alguns directores, nomeadamente no patrão da sua empresa, Alfresco Costa, e presidente do Conselho Fiscal do clube. Ninguém como Alfresco Costa conhecia a vida de Galo da Costa e, por isso, sabia muito bem que este andava a viver além das suas reais possibilidades, entrando em outros negócios e noutras sociedades, sem se lhe conhecer a proveniência do dinheiro. Desconfiado desta situação, como presidente do Conselho Fiscal do Clube, Alfresco Costa um dia interpelou Galo da Costa sobre o milhão e duzentos mil contos da venda dos dois jogadores, mas como resposta obteve apenas: -Não tenho de dar contas a ninguém. Alfresco Costa estava de pé frente à secretária de Galo da Costa e quase não acreditou no que estava a ouvir. Aquela era a confirmação de que o dinheiro tinha mesmo desaparecido e não pactuou mais com a situação, demitindo-se do seu lugar de presidente do Conselho Fiscal do clube, ao mesmo tempo que intimava Galo da Costa a abandonar a sua empresa. Alfresco Costa não teve contemplações: -Recuso-me a trabalhar com gente desonesta. Na minha empresa não posso ter indivíduos do seu quilate. Galo da Costa estava na mó de cima e não ficou muito preocupado com a situação. Uma grande parte daquele milhão tinha sido investida em várias empresas com ligações a familiares seus, mas sem o mínimo de capacidade de gestão, e todas acabaram por falir. O dinheiro fácil nunca é bem gerido, e o clube já estava a pagar as aventuras do seu presidente. Mas os fiéis associados pouco se importavam com essas contas. Eles não queriam saber de gestão, mas de golos, e esses não faltavam. Galo da Costa e Reginaldo Teles também sabiam disso e tinham de se organizar no sentido de garantir que esses golos e essas vitórias nunca haveriam de faltar. Para deixar a empresa onde trabalhava, Galo da Costa ainda teve que pagar sete mil contos e ficou sem carro por uns tempos. O milhão e tal de contos tinha desaparecido sem deixar rasto e tinha deixado de rastos GC, a contas com a justiça, por cheques sem cobertura e penhoras a bens pessoais. Foi um momento difícil, mas que não abateu o presidente, levando-o antes a pensar que o seu negócio era o futebol. Era nessa área que se movia como peixe na água, e a modalidade não estava a ser devidamente explorada. Todos os movimentos foram reprogramados, de forma a que o clube tivesse uma gestão capaz de alimentar o seu presidente. Reginaldo Teles acabou por subir na escala do poder no clube. O vice para o futebol foi afastado, e Reginaldo chegou-se mais ao presidente, ocupando o lugar deixado vago. A vaidade pessoal de Reginaldo levou-o a abrir mais uma casa de alternos, desta vez mais chique e refinada. As putas eram de melhor qualidade e o champanhe também. Galo da Costa não perdia um strip-tease, e quando lhe agradava, saboreava ao vivo a estrela do espectáculo. GC sentia-se cada vez mais um Al Capone à portuguesa. Sempre rodeado de guarda-costas, assumia a pose do gangster e já tratava as raparigas da forma que um dia vira num filme americano, nos seus tempos de liceu. Tinham surgido alguns escândalos e alimentava-se a desconfiança em relação à forma como os dinheiros estavam a ser geridos e distribuídos, mas aos poucos a organização refinou-se, de forma a não deixar rastos. Luigiano D´Onofrio era um gangsterzinho e foi-se apercebendo da forma pouco cuidada e pouco profissional como os assuntos eram tratados e em alguns negócios governou-se com mais dinheiro do que aquele que ficara combinado, e para anular essas fugas, Galo da Costa resolveu montar uma sociedade secreta na Suíça para que existisse um maior secretismo. Luigiano D´Onofrio era uma figura envolta em algum mistério. Tanto aparecia como, quase por artes mágicas, desaparecia, o que acontecia normalmente quando se adivinhavam maus momentos. Estas artes de prestidigitador livraram-no de muitos sarilhos, embora alguns anos mais tarde Luigiano não tivesse conseguido evitar alguns dias de detenção num calabouço suíço, por suposta ligação a um caso futebolístico que abalou o futebol francês (Olympique Marselha). GC confiava cegamente no seu amigo Luigiano. -Luigiano, vamos legalizar a nossa situação montando uma empresa de compra e venda de jogadores. No meu clube só você vende e compra todos os atletas, mas podemos estender o nosso negócio até outros clubes desde que se mantenha segredo absoluto. -Está bem , presidente, você é que manda. Um dia ainda há-se ser como o Berlusconicz. Galo da Costa não perdeu tempo. -Vamos já formar essa sociedade, porque tenho um negócio para ser feito já. Na semana seguinte já estavam os dois na Suíça para legalizarem a empresa de compra e venda de jogadores (...)”.
Continua...
Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

3 comentários:

1234567vv disse...

http://vermelhovzky.blogspot.com/2007/07/ser.html

Amo-te Benfica disse...

Está a aquecer...
A mafia anda aí...

Parabéns por mais este capítulo.

arrebumbas disse...

Camarada amo-te benfica,

Obrigado pelo elogio etambém pela força.
Não nos vamos calar enquanto os criminosos não forem punidos, doa a quem doer!

Benfica Sempre, mesmo depois da morte!