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terça-feira, 17 de julho de 2007

O POLVO (8ª Parte)

Continuação
”(...) GC estabeleceu então uma nova estratégia: -O Josef Veiga tem-se mostrado competente e capaz. Tem-nos dado muito dinheiro a ganhar, mas está na hora de se desfazer a sociedade. Joaquinas Oliveira não entendeu onde o presidente queria chegar e não hesitou em perguntar: -Mas não estou a entender. Se ele nos está a dar bom dinheiro, porque é que vamos desfazer a sociedade? Então explicou o seu plano: -Se desligarmos o Josef Veiga da nossa organização, simulando um desentendimento, ele fica mais livre para poder trabalhar com outros clubes, nomeadamente com os nossos maiores adversários. Com esta acção, para além dos lucros que daí podemos retirar, ficamos com a possibilidade de minar os nossos adversários por dentro. Ficamos com o campo livre para lhes vendermos jogadores com rótulo dourado, mas fora de prazo, e também podemos vender os seus melhores jogadores para clubes estrangeiros, criando, assim, focos de instabilidade ao mesmo tempo que se lhes diminui a força. Joaquinas Oliveira nem queria acreditar no que ouvia. Aquele homem era de facto um manancial de inteligência. Dois dias depois, estava desfeita a sociedade e, tal como fora previsto, Josef Veiga tornou-se num dos empresários mais conceituados da nossa praça.
Mas a completa organização do sector da arbitragem era o negócio que agora fazia perder mais tempo a GC. Reginaldo Teles tinha descoberto o ovo de Colombo e revelado jeito para controlar a situação. Com um tiro podia matar com facilidade dois coelhos. O seu clube não tinha dinheiro para andar a gastar em arbitragens, e a sua política nunca foi a de gastar, mas sim a de cobrar. Toda a gente sabia que ele não era homem endinheirado, e alguns dos que, nos primeiros anos, ainda ajudaram o clube quando se tornou necessário, agora fugiam a essa situação, porque se sentiam traídos com os negócios efectuados por GC. Era a velha filosofia de que era possível enganar toda a gente durante muito tempo, mas não sempre. Como gostava de dizer, «não corre mais o que caminha, mas sim o que mais imagina». Por isso, tornava-se necessário pensar sempre em novas estratégias. Quem emprestava dinheiro queria garantias, e o clube ia ficando hipotecado a essas situações, perdendo algum património sem que ninguém levantasse a voz para travar esse tipo de situações. Galo da Costa sentia-se inatingível. Estava acima do poder e até o desafiava, sem ser punido por isso. Tinha a força do seu clube por trás. As vitórias, os golos e as alegrias. Tudo era feito em nome do futebol. Galo da Costa sabia que tinha muitos inimigos, e não podia falhar dentro do relvado. O controlo sobre árbitros era a solução que mais garantias dava para que se continuasse a somar títulos, e Reginaldo Teles tinha a solução na mão, sem gastar dinheiro com isso, muito pelo contrário, ganhando milhares. Reginaldo limitou-se a deixar germinar o negócio. Não era necessário movimentar-se. As pessoas vinham ter com ele para estabelecer o primeiro contacto. Já não se negociava com prendas, mas com dinheiro vivo. Foi mesmo estabelecida uma tabela, mas George Gomes não estava muito de acordo. -Isso das tabelas não tem jeito nenhum. Os jogos têm de valer pela importância que têm. -És capaz de ter razão, mas aqui no bar está a dar muita barraca. Temos de falar com o presidente. Galo da Costa já se tinha apercebido da situação e também não andava muito satisfeito com a exposição pública. Havia que evitar uma devassa que, de dia para dia, se tornava mais fácil de empreender, principalmente da parte dos inimigos do costume. Ele mesmo era cliente assíduo do bar e não queria ser visto no local na companhia de árbitros e muito menos envolver-se directamente no negócio. -Vamos «lavar» a imagem que está a passar lá fora. Esta situação tem que ser alterada. Muito embora utilizes o teu bar para o primeiro contacto, combinas depois os encontros para o restaurante do teu primo. O local é mais decente, menos visto, e não é tão frequentado por gente do futebol. E sempre tem ao lado um bom jardim que dará sempre para meditar um bocadito... -Também acho que essa é a posição mais acertada. Vamos mudar isto, e já - concordou Reginaldo. Com uma organização mais eficiente, Reginaldo Teles elaborou uma carteira de árbitros seleccionados por preços, acessibilidade, categoria e forma de actuar. O prémio de cada favor era estabelecido conforme a importância do jogo, e de início, Reginaldo cobrava apenas um terço do estabelecido, mas, mais tarde, quando verificou que os seus favores eram cada vez mais requisitados, passou a cobrar 50 por cento. Ninguém discutia preços nem duvidava do empenhamento de Reginaldo Teles, que sempre que lhe era possível marcava a presença no jogo onde estabelecera o seu melhor negócio.
Mas o volume de pedidos cresceu tanto, que George Gomes começou a ser mais requisitado, entrando no negócio a todo o vapor. Enquanto Reginaldo assumia os seus compromissos e as suas responsabilidades no negócio, George Gomes estava mais virado para o lucro fácil. Fazia-se intermediário, cobrava a respectiva verba e nem sempre os árbitros viam a fracção combinada, o que dava origem a alguns protestos rapidamente silenciados com as ameaças do costume. George Gomes foi mais longe. Com a ambição de ganhar tudo, a maior parte das vezes nem sequer falava com os árbitros e esperava simplesmente que os resultados fossem favoráveis para ficar com a respectiva verba. O negócio até era muito mais rentável na 2ª Divisão. Os jogos eram menos vistos, os árbitros estavam menos expostos e toda agente queria subir. Foi num negócio entre duas equipas da 2ª Divisão que George Gomes foi pela primeira vez desmascarado nas suas vigarices. O árbitro era alentejano, mas tinha um compadre no Porto, proprietário de um restaurante. O lugar era típico e até se cantava lá o fado. Um representante de um dos clubes foi falar com o dono desse restaurante, levando uma proposta em carteira. -Sabemos que és compadre do Jonas Cravo, e ele vem apitar, no domingo. Não podemos perder. Tens de nos ajudar. -Está bem, eu falo com o homem. -Quanto é que achas que lhe podemos dar? -Mil contitos, mas 200 são para mim. -Tudo combinado. Trata do negócio. Passados poucos dias, o mesmo elemento desse clube surgiu no restaurante do compadre de Jonas Cravo para lhe dizer: - Não trates de nada, porque o meu vice e o meu presidente foram falar com o Reginaldo Teles, e ele garantiu que tratava do assunto todo. Para tratar disso, já ficou lá com dois mil contos. - Mas eu resolvia isso com mil. -Oh, pá, nem me quero meter nessa merda! Mandaram-me falar contigo e foram ao bar do gajo e ele sacou-lhes dois mil contos. Fiquei bera com isso e obriguei-os a prometerem-me que os teus 200 contos estão garantidos. -Tudo bem, não há problema. O Reginaldo que me telefone que eu trato do encontro. O homem vem de véspera e janta no meu restaurante. Na véspera do tal jantar, George Gomes telefonou ao dono do restaurante e combinou o encontro com o árbitro. Quando este chegou, foi logo posto ao corrente do que se estava a passar e esperou até quase de madrugada por George Gomes. Como este não aparecia, acabaram por desistir, embora mantendo a esperança de que ele telefonasse. Mas até à hora do jogo... nem um telefonema nem uma palavra. O clube que entregou os dois mil contos a Reginaldo ganhou, mas sem qualquer interferência do árbitro. No final, de regresso ao restaurante do seu compadre, o árbitro voltou a falar no assunto. -O George Gomes não me ligou nem disse nada. -São uns filhos da puta. Ficaram com os dois mil contos e nem sequer se dignaram a falar comigo. Esses gajos são burros como portas. Andam a dar dinheiro a esses chulos. De facto, os dois mil contos ficaram na posse da organização de Reginaldo, sem que este tivesse o mínimo trabalho ou interferência no desenrolar do jogo. E o dono do restaurante nunca mais viu os tais 200 contos. George Gomes sabia jogar com a situação e tinha consciência de que, como não se podia falar abertamente destes negócios, dificilmente se descobriria este tipo de vigarice.
Uma outra vez, no final de um jogo em que o árbitro foi um internacional nortenho, o presidente do clube que venceu acompanhou, no final da partida, esse árbitro ao seu automóvel e pelo caminho disse-lhe abertamente: -O George Gomes já falou consigo? -Comigo? Não. Porquê? -Eu dei-lhes três mil contos para si e ele garantiu-me que já lhos tinha dado. De súbito, começou a chover e, no momento em que o presidente desse clube saltava um charco de água e abria o guarda-chuva para abrigar o árbitro, ambos verificaram que George Gomes, embrulhado numa gabardina, se dirigia a eles. O árbitro não hesitou, e mesmo ali agarrou-o pelos colarinhos, enquanto lhe dizia: -Ó meu filho da puta, andas a governar-te à minha custa! -Tem calma, eu vinha agora trazer-te o dinheiro. O presidente resolveu então intervir, para evitar que aquilo se transformasse num escândalo. -Tenham calma. Vamos resolver isso civilizadamente. Você ainda me disse ontem que já tinha dado os três mil contos a este homem. -É que ainda não tive oportunidade de o encontrar. -Tem aí o dinheiro? - perguntou o presidente. -Não. -Então avise o Reginaldo Teles que amanhã vou ao bar dele e se não me devolverem os três mil contos, armo um escândalo que nem vos passa pela cabeça. Foram muitos os casos como este. George Gomes estava a comprometer o negócio com as suas vigarices, mas o certo é que Reginaldo lhe aparava todos os golpes, e GC começou a desconfiar que eles estavam feitos, muito embora não revelasse o facto para não perder a confiança de Reginaldo, muito menos agora, que ele lhe tinha apresentado a Mariana. Uma rapariga por quem se estava a apaixonar e para a qual até arranjou um emprego no clube. Semanalmente, eram muitos os milhares de contos que se movimentavam em negócios com os árbitros. Reginaldo Teles e George Gomes já evidenciavam sinais exteriores de riqueza. Os negócios eram realizados em dinheiro vivo, mas, quando isso não acontecia, também não havia problema para controlar a situação e não deixar vestígios. Reginaldo recebia os cheques, trocava-os no casino, levantava dinheiro na troca de fichas e entregava em dinheiro aos árbitros. Não deixava qualquer tipo de vestígio. No entanto, esta situação levou-o a viciar-se no jogo. Com alguns montes de fichas na mão, começou a não resistir à tentação de arriscar algum na roleta e perdeu muitas centenas de contos. George Gomes não gostou da situação e por diversas vezes tentou fazer com que o seu amigo deixasse o jogo. -Não gastes dinheiro nessa merda. Não vês que ninguém ganha, e quando ganha, no dia seguinte deixa-se o dobro. -Deixa lá. Isto dá-me gozo, e o dinheiro é dos camelos. Eu controlo a situação. Posto isto, apostou tudo o que tinha no preto. E ganhou. -O que é que eu te dizia, George?...
Galo da Costa e Reginaldo Teles tinham encontrado nos escalões inferiores as suas melhores fontes de receita nas negociatas directamente relacionadas com processos de corrupção na arbitragem. O nível dos dirigentes era mais baixo, e a vaidade dos endinheirados empresários que procuravam o futebol para evidenciarem a sua posição social estava a ser soberbamente explorada. Galo da Costa esfregava as mãos. -Como é fácil ganhar dinheiro no futebol. Quando assumi a presidência do clube, nunca imaginei poder chegar a esta situação e ganhar tanto dinheiro. -Mas, desta vez, veja lá se tem mais cuidado com os investimentos que faz. Siga o meu exemplo; gasto algum no jogo, mas estou sempre bem de vida - juntava Reginaldo Teles, sempre prudente. -Isso não é de admirar. O teu negócio dá sempre. Agora estás a ver-me a gerir uma casa de putas? Toda a gente me caía em cima. -Não é bem assim. Vejam o meu exemplo. Não é segredo para ninguém que sempre vivi à custa da prostituição. Sim, porque não tenho as gajas para andarem a fazer cócegas aos clientes e eu não ganhar nenhum. Ninguém vai ao meu bar beber um copo porque o whisky de lá é muito bom ou a música óptima. -Nisso tens razão. A maior parte do whisky que lá vendes até está marado! Só mesmo as gajas é que são boas. Por falar nisso, já há muito tempo que não me apresentas uma novidade. -E a Mariana? -Adoro aquela gaja. Pelo menos agora tenho-a junto a mim mais tempo e sem ninguém desconfiar de nada. Mas isso não quer dizer que não vá provando uma daquelas novidades que vão aparecendo. -Estou à espera aí de umas gajas novas que vêm da Rússia e hei-de arranjar-lhe alguma coisa. Mas, voltando à conversa anterior, não concordo muito consigo quando me diz que ter um bar de alternos é mau e que não dá prestígio. Você é testemunha de que esses gajos todos não me largam e estão fartos de dizer que sou um tipo porreiro. Até me querem fazer uma festa de homenagem. Não vê, nas viagens ao estrangeiro que fazemos com o clube, as mulheres deles a juntarem-se à minha sem qualquer tipo de preconceito?! Toda a gente sabe que é a minha mulher que gere as putas, que lida com elas todos os dias e, sabe uma coisa: mulheres dos nossos vices e de alguns dos acompanhantes que habitualmente nos seguem, fizeram-se grandes amigas dela e algumas até puxam conversa para saberem como é o ambiente no bar. Isto é um mundo de hipocrisia, e o que é necessário é saber viver nele. -Então eu não sei disso!? Eu levo muitas vezes a tua mulher aos jantares que os clubes estrangeiros nos oferecem, enquanto tu ficas com os jogadores. -Bem, mas aí eles não conhecem a Lisa. E ela até tem boa pinta.
Galo da Costa ouviu o telefone tocar, levantou-se do maple onde estava sentado e foi atendê-lo na sua secretária. -Tudo bem, obrigado. Após uma curta pausa para ouvir o seu interlocutor, GC puxou uma folha de papel e escreveu um nome. -Já sabia que ele nos ia nomear esse árbitro. Fui eu que lho pedi pessoalmente. Sabe, o jogo é importante e não podemos arriscar... OK! Até logo e obrigado. Era o Ariano Pinto - disse GC. -Ele está a ajudar-nos bastante. -Que remédio ele tem. Se não fosse assim, tirava-lhe o tapete. -Mas ele ajudou-nos bastante no início e pode ajudar-nos ainda mais. -Sei perfeitamente que tenho aprendido muito com ele. No início, foi o Ariano que me abriu os olhos e me ensinou que caminhos devia percorrer para ganhar os títulos que ganhámos. Mas agora quem manda no futebol sou eu. A força está do nosso lado, e se ele não fizer o que mandamos, não tenhas dúvidas que lhe tiro o tapete, e ele sabe disso. Reginaldo Teles lembrou-se do quanto Ariano Pinto era importante em toda a estratégia estabelecida. Só a sua amizade já era bom para o negócio que começou a ser montado (...)”.
Continua...
Nota: Qual quer semelhança com a realidade é pura coincidência.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

PALHAÇADA!


Foi tudo menos pacífica a chegada de Oscar Cardozo e Hans-Jörg Butt ao aeroporto da Portela. Mas já lá chego.
Ao contrário do que se possa pensar, não houve coincidência com a chegada de ambos os jogadores ao Aeroporto Internacional de Lisboa. Cardozo chegou num voo proveniente de Madrid que aterrou às 15h02, enquanto o avião que transportou Butt, saiu de Frankfurt e aterrou na capital pelas 16h45.
Os representantes do Nosso Glorioso clube aproveitaram para juntar os dois jogadores e por fim encaminharam-se para a saída, onde eram esperados por duas dezenas de jornalistas, fotógrafos e os seus câmaras. Foi nessa altura que se instalou a confusão, com a zelosa e desnecessária força de segurança presente (PSP) a empurrar tudo o que mexesse na direcção dos jogadores e com algumas ameaças à integridade física a dois jornalistas por parte de alguns elementos da PSP trajados à civil –apenas identificados pelos chapéus- o que é realmente de lamentar.
Dos poucos adeptos presentes só um teve a felicidade de ser contemplado com o autógrafo de Cardozo.
No meio de um fabuloso número circense o Amo-te Benfica teve a oportunidade de conseguir uma foto para o nosso blog... Vá lá, menos mau...

O POLVO (7ª Parte)



Tal como prometido, estão de volta os textos que abalam o futebol português...

Continuação...

“(...) Joaquinas Teixeira foi um jogador muito discreto. O melhor que conseguia era de quando em quando, partir a perna ao melhor jogador da equipa contrária. Para compensar a falta de talento, tomava mais duas pastilhas que as aconselháveis e injectava-se por conta própria, ao ponto de um dia, o médico do clube o ter aconselhado a parar com aquilo, pelo menos, durante 24 horas, sob o risco de bater a bota. Joaquinas Teixeira era tão ambicioso como tosco. É certo que acabou a carreira aos 30 anos e com a calvície a pronunciar-se, mas terminou-a em beleza: com uma boa conta bancária e um chorudo cheque por ter derrubado um adversário na área de rigor, proporcionando uma grande penalidade que salvou a equipa contrária da descida de divisão. O lance não causou qualquer tipo de suspeitas, pois o Teixeira era mesma assim - às vezes acertava, outras não. Mas a história de Teixeira pouca relevância teria na história da vida de Galo da Costa, se o primeiro não acabasse por se tornar um grande amigo do segundo, depois de ser apresentado por Antónimo Oliveira. Rapidamente se gerou ali alguma cumplicidade, não faltando a adorná-la o habitual naipe de mulheres da vida, desde a classe de iniciadas até às seniores em fim de carreira. Para ajudar, o País vivia uma ascensão económica que tinha os dias mais ou menos contados, mas que iria ser boa enquanto durasse. Com o Teixeira a controlar as miúdas e o Antónimo Oliveira a dar a táctica, GC tinha a vida nocturna que queria, mas, ao contrário de Reginaldo, continuava muito agarrado ao dinheiro, não o arriscando na roleta. Esta última acabou por se revelar a desgraça de Reginaldo, que aí foi deixando largas centenas de contos, proporcionando também a um conhecido jornalista algumas jogadas de risco, em especial quando a equipa se deslocava à Madeira. Sempre adiantados dois passos em relação aos restantes, Antónimo Oliveira foi-se afastando do grupo, mas nunca se desligou. Joaquinas Teixeira, entretanto, leu dois livros policiais e começou a falar como um doutor, deixando de ser adjunto do Antónimo - então um treinador de mediano sucesso - para se tornar técnico principal. O conhecimento que tinha da arte das pastilhas acabou por se aliar a um feeling muito especial e, rapidamente, enquanto ia esvaziando o stock de uma farmácia próxima de Paredes, conheceu o sucesso. -O futebol é um espanto. Ainda ontem estava a queimar o couro nos pelados e hoje eis-me a fumar um charuto e a dar bitaites para os jornais! - dizia Teixeira para a mulher, enquanto apreciava as miúdas que se passeavam no areal de Cancún, onde uma conhecida apresentadora de televisão fazia discretamente amor com dois jovens craques que nesse ano tinham surgido na ribalta. -Chegou a hora de começar a apanhar peixe graúdo, pois estou farto de andar aos figos! - desabafou, longe de saber que nesse momento, GC tinha engendrado mais um plano diabólico.
O plano era simples e partia do seguinte pressuposto: no futebol, nem só os jogadores são a mercadoria: há que contar também com o treinador. -E os treinadores, Reginaldo, é que marcam golos ou os permitem! - referiu GC, merecendo o assentimento de Reginaldo. -Vai ser canja - continuou o presidente. Fulano precisa de clube, e nós arranjamos esse clube, a quem damos a garantia de que, com aquele treinador, é que a equipa não desce; não sendo preciso dizer mais nada, eles ficam logo a saber que nós seremos os anjos-da-guarda. -E o que é que nós vamos ganhar com isso, presidente? -Tudo. Começamos por ganhar nos treinadores, que nos vendem a alma para o quef or preciso. Depois, ganhamos com os clubes que os contratam, que também nos ficam a dever favores. Mas não é tudo. Para além de eventuais comissões que virão directamente para os nossos bolsos, os bons jogadores que aparecerem nesses clubes ficam garantidos para o nosso lado e aqueles que forem excedentários do nosso plantel podem ir asilar para esses clubes, o que nos desobriga logo de lhes pagar os ordenados. Isto é o ovo de Colombo. -De quem? -De Colombo, do tipo que descobriu a América. Não julgues que também ele não enganou os Espanhóis. No fundo, era de Génova. O Cristovão... -Quem? O da televisão? -Não, burro, o Cristovão Colombo, e repara que até ele se enganou, pois pensava que estava a descobrir o caminho para Índia quando descobriu a América. Foi o que medisse a Nancy, a nova, aquela que trabalhava num videoclube... -E que tal? -Para o Colombo não correu mal... -Não presidente, que tal a Nancy? -Ah, a Nancy!...boa, sabe aquelas coisas dos filmes... -...o beijo pressionado?! -Qual beijo pressionado, qual quê! Aquelas coisas mais complicadas. Mas não desconversemos. Quero que fique assente que a partir de hoje temos de formar um lobby... -Ó chefe, mas isso compra-se com dólares ou com pesetas?!... -Calado - prosseguiu, já algo irritado, Galo da Costa. Vai ser assim: andam por aí uns rapazes com talento, alguns até foram nossos jogadores, mas os clubes são mais que muitos e as melhores oportunidades normalmente são dadas aos treinadores estrangeiros. Vamos acabar com isso. A nossa garantia vai abrir os olhos aos clubes, que passarão a perguntar-nos que treinador é que podem contratar. Nós é que o escolhemos, percebes? Mas o rapaz que for escolhido já sabe que nos deve não um, mas muitos favores, entendes? Para além de passarmos a controlar o que já sabes, ficamos também com a certeza de que eles farão tudo para derrotar os nossos adversários directos, enquanto que nos jogos com a nossa equipa!... percebeste agora? -Mas, ó presidente, isso é genial! -Claro... O plano foi posto em marcha logo nessa temporada, tendo como cabeça de fila o Joaquinas Teixeira, também conhecido por «Fixe». Os clubes da região caíram nas palminhas de GC, só um deles desceu por manifesto azar, e os adversários directos, por norma, tramaram-se nas deslocações aos terrenos das equipas controladas. Como se tal não bastasse, GC foi pedindo alguns adiantamentos ao longo da época aos presidentes mais abonados, que ficavam satisfeitos só pelo facto de surgirem ao lado de GC ante as câmaras dos repórteres-fotográficos. Um deles, o Manuel Clopes Rodriguez, até se deu ao luxo de reunir na sua quinta os mais ricos empresários da região, com estes, a troco de um galhardete autografado, a entregarem nas mãos de GC uma generosa quantia «para ajudar o clube mais representativo da região».
Na altura, alguns jornalistas ainda tentaram investigar uma história que podia ser o fio da meada ou o fim da picada. Era a história de um jogador belga (Cadorinas) que, nos minutos finais de um jogo no estádio do clube grande, entrou em campo, ao que se supõe, apenas para, na sua área, provocar uma grande penalidade, jogando a bola com a mão e dando assim a possibilidade à equipa da casa de vencer o jogo e não se atrapalhar na corrida para o título. O jogador desapareceu de circulação, e a última vez que foi visto foi a fazer compras em Roterdão, supondo-se que hoje vive desafogadamente numa quinta dos arredores de Liège, onde todos os anos, pelo Natal, recebe um perú com uma mensagem de GC. E o Teixeira? De subida em subida, foi até onde pôde. Depois, claro, já não podia subir mais. GC tinha encontrado um livro num caixote cujo autor era um tal doutor Peter, defensor dos princípios de competência. -Reginaldo, isto é assim: tu só és competente até determinado nível; se o ultrapassares, passas a ser um incompetente, percebes? Reginaldo mais uma vez não percebeu bem, pois, como ele mesmo dizia, tinha uma cabeça que trabalhava a «carvão». -O Teixeira é bom nestas coisas. Quanto muito, posso arranjar maneira de o pôr a treinar a selecção de sub-12, se é que isso o realiza. Mais é que não. Fica onde está e caladinho, e isto é se quer continuar a passar férias a Cancún. O Teixeira concordou, apenas com um pedido. No final da próxima época, preferia ir de férias para as Seychelles!
O bar de Reginaldo começou a ser ponto de encontro para aqueles que queriam usufruir dos favores da arbitragem. Dirigentes e árbitros encontravam-se assiduamente no local, mas nunca tinham um contacto directo, uma situação que foi sempre muito bem controlada, para que não houvesse fugas de informação, tanto em relação a favores como aos preços estipulados. Lentamente, foi criada uma bem organizada rede de corrupção na arbitragem gerida, por cima, por Reginaldo Teles, contando este com um assistente directo: George Gomes. Os árbitros das mais variadas regiões, logo que pisavam o chão da cidade, iam de imediato ao encontro de Reginaldo. Não pediam nada, e muito menos ofereciam qualquer tipo de favor; aguardavam antes, pacientemente, por uma abordagem. No início, estabeleceu-se uma certa confusão promíscua no negócio, e esta situação não era a mais aconselhável. As pessoas começavam a falar de mais, pois já nada passava despercebido, e Reginaldo Teles teve de reorganizar o negócio, colocando as cartas na mesa de Galo da Costa. -Eles parecem moscas a cair no meu bar. A coisa já está a dar muita bronca. -Que coisa? -Aquele negócio dos árbitros. Começou a insinuar-se que eu era capaz de resolver tudo, e os gajos não me largam. São os dirigentes de um lado e os árbitros do outro. Nunca pensei que esta situação pudesse atingir este nível. Uns só querem vitórias; e osoutros, dinheiro... -Deixa lá. Ao menos, fica toda a gente satisfeita. Esse negócio tem de começar a ser gerido de uma forma mais segura. Isso vai dar muito dinheiro, mas é necessário saber fazer as coisas. Roma e Pavia não se fizeram num dia. Estava dado o mote para o arranque de uma organização mais capaz e eficiente, e o plano foi colocado em marcha. Havia receptividade de parte a parte e isso já era um bom avanço. O tempo em que o clube gastava dinheiro para controlar algumas arbitragens já tinha passado. Os árbitros sabiam exactamente onde estava o poder e como se chegar a ele, e se em paralelo se podia ganhar dinheiro, muito melhor. Galo da Costa estava consciente de que todos o temiam. Não tinha o mínimo de pruridos quando queria esmagar um inimigo. Não fazia ameaças, mas os que se mostrassem contra o seu poder podiam ter a certeza de que obteriam uma resposta de acordo com a situação e sem qualquer tipo de contemplações. Perante tal quadro, era muito mais proveitoso estar ligado a Reginaldo Teles. Para além do dinheiro que podiam ganhar, tinham toda a cobertura possível dentro do Conselho de Arbitragem, área onde Galo da Costa e os seus pares se moviam com bastante à-vontade, contando com a colaboração de um presidente da sua inteira confiança. Galo da Costa gostava de evidenciar de uma forma discreta esse poder. Era uma forma de fazer saber que quem mandava era ele. Quem estivesse sob a sua protecção tinha as melhores nomeações e as melhores classificações. E protegia quem se aliasse a ele, incentivando a aproximação dos mais indecisos.
GC queria uma organização perfeita e o controlo absoluto sobre todas as situações. Mas os jornalistas eram indiscretos e perigosos para o negócio. Não era muito saudável que se levantassem muitas suspeitas, e esse sector tinha também de começar a ser muito bem controlado. Galo da Costa sabia insinuar-se e cativar. Quando lhe convinha, promovia encontros com directores de jornais e, de uma forma desinteressada, começava a gabar-lhes os feitos e o trabalho. Incentivados pela guerra estabelecida pela concorrência e sabendo que quem obtivesse maior número de informações junto dos grandes clubes era quem mais vendia, ninguém se negava a esses encontros. Era impossível, porém, controlar toda a gente e, através de algumas acções de intimidação, estabeleceu-se um clima de medo para os que teimavam em mostrar-se independentes. Normalmente às quartas-feiras, o presidente reunia-se com os jagunços e indicava-lhes qual o jornalista que tinha de ser encostado e insultado. Nos dias dos jogos, os capangas passeavam livremente pelo camarote da Imprensa e, através de insultos e ameaças, exerciam uma tremenda pressão sobre alguns jornalistas. A intenção era clara: promover o medo e o consequente silêncio. Durante a semana, quem tivesse o atrevimento de não analisar uma situação conforme lhes convinha podia ter a certeza que tinha à sua espera na primeira oportunidade alguém com o seu jornal na mão a ameaçar que o fazia engolir aquele pedaço de papel. Galo da Costa era mestre na política da divisão, e ao longo dos tempos foi criando divisões entre os jornalistas, porque tinha consciência do perigo que representavam quando todos se resolvessem unir e impor os seus direitos. A organização era-lhe favorável, e ele sabia como jogar todos os seus trunfos. Um negócios implantado no seio da arbitragem era exactamente aquilo que lhe faltava. A Olivedesportivos e a agência de viagens Cósmicas estavam a facturar como nunca. Tinha conseguido vários exclusivos que lhe permitiam efectuar o mais variado tipo de operações, sobrefacturando sem medo de poder ser contestado. Tinha o presidente federativo na mão, e até nem foi muito difícil conseguir isso. Dava-lhe gozo colocar os da capital a trabalhar para a sua organização. Um cartão de crédito sem limite e umas viagens oferecidas ao casal que comandava as operações federativas bastaram para que pudesse facturar alguns milhões. Galo da Costa estava adiantado em relação a todos os outros. Já há muito que tinha entendido que o futebol era a indústria que mais rendia em 90minutos. Mas GC não era infalível. Também cometia os seus erros. Quando, através do agora grande amigo e sócio camuflado, Joaquinas Oliveira, ofereceu um cartão de crédito sem limite ao federativo e à sua mulher, nunca lhe passou pela cabeça que a mulher deste, numa das viagens da nossa Selecção, se lembrasse de utilizar o respectivo cartão em compras pessoais, gastando quase dois mil contos. O cartão foi de imediato cancelado. Numa viagem ao Luxemburgo, onde o clube de GC foi disputar um jogo particular, um emigrante português, que se dedicava à pintura de automóveis e também fazia uma perninha como empresário de jogadores de futebol, conseguiu criar uma grande amizade com GC e Reginaldo. O indivíduo tinha boa pinta e falava várias línguas. Era inteligente e mostrou-se conhecedor do ramo. E como era necessário preencher a vaga de Luigiano D´Onofrio, a solução estava mesmo ali à mão. Josef Veiga tinha todos os predicados para entrar na organização e, num ápice, apareceu em Portugal como sócio de Joaquinas Oliveira. Grandes jogadores começaram a passar pela sua mão. Ganhou prestígio, mas a sua ligação aos Oliveirais limitava a sua acção (...)”.


Continua...


Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

A Guerra Começa a 18 de Agosto

Caros Amigos, pessoal de Cascais e incendiários de escritórios,


Arranca no dia 18 de Agosto o Campeonato Nacional de futebol Super Liga Betadine.
Antevêem-se dificuldades para o Nosso Glorioso clube no sentido de conquistarmos o ceptro maior. Com tantas vendas de jogadores efectuadas e sendo que as aquisições são uma miragem, não há dúvida que serão feitos investimentos para o futebol só que vindos de outros ramos de actividade. – Café, fruta, biscoitinhos, rebuçadinhos e afins... –Como eu gosto desta palavra: Afins...
Mas adiante...

A 1ª jornada está reservada com o Benfica a deslocar-se a Matosinhos para enfrentar o bem apetrechado, poderoso e recém promovido Leixões. O Nosso Glorioso clube jogará sempre com as “sobras” do V. Setúbal, jornada após jornada.

A Associação Criminosa desloca-se à cidade dos Arcebispos onde certamente esperará por um milagre para vencer. Os Cavalgaduras jogam sempre nas jornadas seguintes com as “sobras” da Briosa.

Sobre o pessoal de Cascais... – ahahah desculpem, mas sempre que escrevo ou falo destes tipos, começo-me a rir... eheheheheheh- recebem a Briosa. Nas fileiras lagartas vão actuar dois jogadores especiais. Um, com “coisas” para mostrar ao nosso treinador e o outro que se enganou sobre o clube que queria realmente representar. Seja como for, os betinhos falidos apresentam-se em campo todos os fins-de-semana para jogar com as “sobras” do SC Braga.

Clicando aqui terá acesso ao Calendário integral da prova.

O POLVO (6ª Parte)

Continuação

”(...) O seu primeiro negócio foi com um clube francês (Matra Racing de Paris) cujo Treinador (Artosco Jorge) já tinha passado pelo clube de GC. -Temos de realizar dinheiro, porque as coisas não estão muito boas. As empresas que tenho montado têm dado uma grande barraca e levam-me o dinheiro todo. Temos o Jorge Palácido para vender a um clube francês. Luigiano D´Onofrio arregalou os olhos e disse com espanto: -Mas, presidente, esse jogador não tem cotação europeia. -Não se preocupe com isso, porque quem lá está vai querê-lo. D´Onofrio, ainda sem acreditar no que ouvia, apesar de toda a sua experiência no mundo das vigarices, perguntou: -Como vai ser feito o negócio? -O nosso clube vende o Palácido à nossa empresa por 60 mil contos e nós vendemo-lo ao clube francês por 160 mil contos. -Desses negócios é que eu gosto. Ganhamos mais que o clube. -Tenho que dar uma volta à minha vida e começar a ganhar dinheiro, porque o que já perdi não foi pouco. No futebol é que está o nosso grande negócio. Luigiano D´Onofrio arregalou os olhos e pensou de imediato em ir um pouco mais adiante, mas resolveu não falar disso com o presidente. Preferia colocar o problema a Reginaldo Teles, que era um elemento mais acessível para as situações de ilegalidade.Logo que pôde, encontrou-se com Reginaldo Teles e convenceu-o a falar com o presidente. -Reginaldo, temos um negócio que dá dinheiro que se farta, mas tens de ser tu a falar disso ao presidente. Reginaldo olhou-o pensativo, mas lá acabou por se decidir. -Não venhas com tangas p´ra mim. Diz lá que o que queres que proponha ao presidente. -Tenho feito aí uns negócios com cocaína e nem imaginas o lucro que isso dá. -Estás maluco. Pensas que o presidente vai numa coisa dessas? -As coisas estão más e é necessário realizar dinheiro. Com a protecção que o futebol dá, podemos trabalhar à vontade. Reginaldo Teles convenceu-se de que, de facto, havia alguma razão nas palavras de Luigiano D´Onofrio e comprometeu-se a falar com o presidente sobre o assunto. Galo da Costa ouviu atentamente Reginaldo e mandou-o avançar com a ideia, mas ele queria ficar de fora. -Resolvam lá isso vocês os dois, mas deixem-me de fora para poder controlar melhora situação. Reginaldo Teles não era burro e ficou desconfiado. Naquele momento não disse nada mas, passados dias, voltou a falar do assunto. -O melhor é ficarmos os dois de fora, e eu arranjo alguém para tratar do assunto directamente com o Luigiano D´Onofrio. De início, o negócio correu bastante bem, mas passados alguns meses, a polícia começou a ameaçar com algumas buscas, tendo inclusive ido esperar o autocarro do clube à portagem dos Carvalhos para o revistar de alto a baixo. Mas nunca encontrou nada, porque a rede estava bem montada e não faltavam informadores. No entanto, Galo da Costa sentiu o perigo que essa situação podia estar a criar e, como tinha consciência de que inimigos era coisa que não lhe faltava, depois das primeiras prisões de pessoas ligadas ao grupo que actuava em paralelo com D´Onofrio, deu ordem para se terminar com o negócio da cocaína que começava a ser vendida um pouco descaradamente aos próprios jogadores de futebol do FC Porto. Galo da Costa não perdia tempo. Não dormia só para pensar. A «coca» garantia muitas horas de espertina, no fim de contas.

Na Ribeira do Porto, dois homens estão frente a frente, tendo como intermediário um copo quase a transbordar de vodka. Um deles foi o craque do clube da cidade (Firmando Gomes). O outro é um jornalista desportivo. Ambos recordam os bons velhos tempos, quando Galo da Costa era apenas um elemento de uma equipa que então ganhava sem precisar de recorrer a meios ilícitos e sem possibilitar o ganho de milhares de contos a marginais e arrivistas. O jogador começou a conversa: -Este mundo é mesmo ingrato. -A quem o dizes - suspirou o jornalista. - Parece que estão todos contra mim. Até o teu colega Travares Telles me vigarizou em mil contos. Disse que ia escrever o livro da minha vida, pediu o adiantamento e o livro foi um ar que se lhe deu... -Que é que se há-de fazer? Este mundo do futebol é mesmo assim. Também não te despediram do clube sob o argumento de que tinhas faltado ao jantar? -Essa é que foi... Deus do céu, só de pensar o quanto eu gosto daquele clube! Mas esse moço de recados, o Octrácio, vai ter um bonito funeral. -Não acredites nisso - retorquiu o jornalista, baixando o tom, pois acabara de entrar no bar um elemento que não conseguiu identificar - o tipo sabe enganá-los com falinhas mansas. Sabes que com todo o dinheiro que tem ainda está a dever mil paus ao director do meu jornal, uma coisa dos tempos de Coimbra? -Vou sair do futebol - anunciou o craque, após uma longa pausa - Este mundo não vale a pena: só os vigaristas, os bruxos e os indigentes é que têm futuro. E não vale a pena metê-los todos num convento, um a um, pois rapidamente iriam acabar por convencer os próprios santos. Bah!, que se lixem esses gajos... -Tem fé, amigo, pois vão acabar por cair de podres. Mas Firmando Gomes, o craque, não estava num dia positivo. Fechou os olhos e pormomentos recordou os golos que marcou, viu-se de braços no ar, os cabelos molhados,correndo para os adeptos, subindo a rede, abraçando o presidente e pensando que o mundo se resumia ao estádio. -Lembras-te quando disseste que a sensação de marcar um golo era superior à de um orgasmo? - perguntou o jornalista, quebrando um silêncio apenas embalado por uma música do Rui Piolhoso que se ouvia em fundo. Firmando Gomes desfiou as suas mágoas, num lamento-monólogo que foi subindo de tom: -Já sei que não sou um génio; nem acabei o curso dos liceus, mas não sou como aquela besta do «capitão» (João Pintas), que ia para os estágios sempre com o mesmo livro, continuando a ler no local que nós íamos marcando, ora mais adiante ora mais para trás. Mas corri um pouco o mundo, leio os jornais e não me dou com a ralé. Até dizem que tenho voz radiofónica e quem sabe se não poderei ser um dia um grande comentador desportivo. Ah, mas o meu sonho, o meu grande sonho, é ser presidente do clube, isso sim, isso iria encher-me as medidas! Eu sei, eu sei, não digas nada, já sei que só depois de o homem morrer é que terei algumas hipóteses. Mas ele não vai morrer tão cedo. Não sei como, mas conseguiu a protecção da Nossa Senhora de Fátima. Sim, da Nossa Senhora de Fátima. O cabrão! Só a mim é que ela não aparece... Firmando estava inconsolável: -Não lhe vou perdoar nunca o facto de me ter obrigado a acabar a carreira noutro clube, logo eu, o símbolo daquele emblema, a sua imagem de marca, o primeiro a dar-lhe algum dinheirinho para o bolso e o favorito do Pidroto. Aqui Firmando teve uma ideia: -Ouve lá, e se eu lançasse uma campanha para dar o nome de Pidroto ao nosso estádio? A ideia nasceu ali, naquele momento, mas no mesmo dia, GC teve dela conhecimento. Vão ter que esperar sentados! - rugiu, sem conseguir esconder que lhe estavam a tentar cravar um espinho na pata. A ideia nasceu, foi regada e germinou. Numa noite de Inverno, foi mesmo debatida e aplaudida num colóquio que se realizou nos arredores da cidade do Porto. Os jornais fizeram eco do acontecimento, mas nenhum jornalista ousou perguntar a GC o que pensava da ideia. GC evitou sempre a pergunta, na certeza de que o assunto acabaria por ficar esquecido. -O Pidroto já lá tem uma lápide, não precisa de mais homenagens e, c´um raio, se ele merece o nome no estádio, o que é que eu não mereço? - interrogou GC os botões do seu novo fato príncipe-de-Gales (...)".
Continua...
Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
Nota 2: Para não cansar os nossos leitores e visto que se aproxima um weekend de calor, a publicação de O POLVO só voltará a ser postada na próxima segunda-feira. Até lá, convido todos os que leram desde a 1ª à 6ª parte a postarem um comentário sobre o que acham desta mirabolante história.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

O POLVO (5ª Parte)

Continuação
”(...) Mas quando as derrotas surgem ou os resultados demoram a aparecer e as exibições não são as melhores, há sempre associados que contestam. No final de um jogo em que o clube tinha perdido, um associado, passando ao lado dos balneários, não se coibiu de lançar alguns insultos ao presidente e seus pares. -Filhos da puta, chulos, vão trabalhar! Galo da Costa, que estava de sobretudo e mãos nos bolsos, tendo a seu lado Reginaldo Teles e mais dois dirigentes de menor importância, todos rodeados por quatro capangas, deu de imediato uma ordem em surdina: -Fodam-me esse gajo! Os quatro capangas deram meia volta, seguiram o indivíduo até às imediações do estádio e deram-lhe uma sova, perante o olhar incrédulo das outras pessoas que não sabiam muito bem o que se estava a passar. Era a lei da força e do silêncio. O esquema estava montado, e dirigente que ousasse abandonar o clube e falar do que ouviu ou viu, sabia bem o que lhe poderia acontecer. O grupo de seguranças foi-se refinando alicerçado pela parcialidade e impunidade com que os próprios jagunços era tratados e alongou-se até alguns agentes de autoridade que não se importavam de ostentar as suas armas como forma de intimidação. Foi sobre esta onda de poder e segurança que Galo da Costa construiu o seu império e imperializou a sua própria imagem. Ele sentia-se um Al Capone à portuguesa, com a vantagem de não poder ser apanhado pelo fisco, pois não tinha rendimentos legais que justificassem qualquer tributação. Tinha, isso sim, o poder nas mãos e ficou ainda mais seguro disso a partir do dia em que se aliou a um bruxo muito conceituado em terras brasileiras que dava pelo nome de Pai Jójó (Delainei Vieira), um bruxo que não se limitava aos orixás, fornecendo também a equipa de futebol com frasquinhos de vidro que continham um guaraná em pó muito especial, esmagado por uma tribo de índios do interior do Brasil. O «speed», normalmente recomendado para os gulosos do sexo, ajudava os craques e, aliado à normal injecção de «vitaminas», tornava-os super-homens dentro do campo. E era certo que a aparelhagem do anti-doping estava completamente desajustada para detectar o que quer que fosse. Mas até este sector, a seu tempo, foi devidamente controlado. Entretanto, Reginaldo Teles não cessava a sua actividade, continuando a arranjar as melhores amantes para Galo da Costa e a dar-lhe toda a protecção. Rodeado de poder, mas ainda sem dinheiro, o presidente, como lhe chamava Reginaldo, tinha algumas limitações, mas nunca esqueceu o velho amigo Ilídio Pintas, a quem continuava a extorquir o dinheiro que queria para efectuar alguns negócios, sempre com a promessa de que um dia este viria a ser vice do futebol profissional. -É uma questão de tempo. Você tem de ter paciência. Necessito de si em lugares mais importantes para a vida do clube. Um dia o futebol será seu. Com estas palavras de Galo da Costa, o Ilídio Pintas lá ia passando uns cheques e cobrindo algumas despesas, porque fortuna pessoal foi coisa que nunca se conheceu ao presidente. O grande negócio acabaria por surgir. Um clube espanhol (Atlético de Madrid) interessou-se pela aquisição de Frutas, e o seu presidente resolveu vir a Portugal contactar o jogador, sem antes consultar o clube de Galo da Costa. Mas a organização, constituída por mais de uma dezena de guarda-costas, estava sempre bem informada de tudo quanto se passava na cidade e essencialmente dos assuntos que diziam respeito ao clube. Por isso, quando chegou a boa nova de que o presidente do clube espanhol estava em Portugal para falar com Frutas, foi de imediato colocado um plano de ataque em marcha, cujo nome de código era «Caça à Peseta». Apesar de Gilas y Gilas estar, no seu país, bem à altura de Galo da Costa, quando veio a Portugal estava muito longe de saber o que lhe ia acontecer. Chegou ao Porto e combinou encontro com um empresário, para avaliar a possibilidade de levar Frutas para Espanha. O bar era pequeno e decorado de uma forma simples. No fundo da sala, um pouco na penumbra, estava sentado Gilas y Gilas à espera do tal empresário quando irromperam pela sala dentro quatro indivíduos que, sem darem cavaco a ninguém, o rodearam e apertaram contra a parede, lançando o aviso: -Se voltas aqui sem primeiro falares com o presidente do nosso clube, podes ter a certeza que não sais daqui vivo. Na próxima, não há aviso! - rugiu Reginaldo, decalcando o final da sua declaração de um filme que tinha visto em Pinheiro da Cruz. Estas palavras foram ditas com tanta certeza e segurança que Gilas y Gilas quase se mijou pelas pernas abaixo. Fora a sua primeira lição como futuro presidente de um dos maiores clubes espanhóis. «Coño, em Portugal não se brinca», suspirou, ainda com as pernas a tremer como varinhas verdes. Gilas y Gilas não disse palavra, limitando-se a sair do bar e a enfiar-se na sua viatura, acelerando, sem olhar para trás, até Espanha. Gilas até se esqueceu de comprar um queijo da serra em Vilar Formoso, como prometera a Carmena, a sua amante de Madrid/Sul. Já no seu território, contactou directamente com Galo da Costa, e este, sem muitas palavras, indicou-lhe um interlocutor: Luigiano D´Onofrio. -O seu braço direito? - quis saber Gilas. -Mais ou menos, pois será ele a conduzir o assunto – informou GC. Gilas y Gilas ficou tão impressionado com a acção de Galo da Costa que resolveu oferecer um extra ao seu congénere português: uma vivenda em Madrid. -Sim senhor, mas numa zona fina, se faz favor – aceitou GC de pronto. Luigiano D´Onofrio entretanto colocou outro jogador (Rui Barrote) de GC num clube italiano (Juventus) e a soma da venda de Frutas e desse jogador vendido para Itália foi de 1 milhão e 200 mil contos, uma verba que GC nunca teria imaginado poder passar pelas suas mãos. De imediato, GC juntou todo aquele dinheiro e abriu uma conta particular, prometendo aos seus parceiros de direcção que aquela verba iria servir exclusivamente para a compra de jogadores para o clube. Todos acreditaram, mas esse dinheiro desapareceu como o fumo. Para amostra não ficou nem sequer um mísero escudo. As ligações de Galo da Costa com situações marginais começaram a ser comentadas, e isso criou um certo descontentamento entre alguns directores, nomeadamente no patrão da sua empresa, Alfresco Costa, e presidente do Conselho Fiscal do clube. Ninguém como Alfresco Costa conhecia a vida de Galo da Costa e, por isso, sabia muito bem que este andava a viver além das suas reais possibilidades, entrando em outros negócios e noutras sociedades, sem se lhe conhecer a proveniência do dinheiro. Desconfiado desta situação, como presidente do Conselho Fiscal do Clube, Alfresco Costa um dia interpelou Galo da Costa sobre o milhão e duzentos mil contos da venda dos dois jogadores, mas como resposta obteve apenas: -Não tenho de dar contas a ninguém. Alfresco Costa estava de pé frente à secretária de Galo da Costa e quase não acreditou no que estava a ouvir. Aquela era a confirmação de que o dinheiro tinha mesmo desaparecido e não pactuou mais com a situação, demitindo-se do seu lugar de presidente do Conselho Fiscal do clube, ao mesmo tempo que intimava Galo da Costa a abandonar a sua empresa. Alfresco Costa não teve contemplações: -Recuso-me a trabalhar com gente desonesta. Na minha empresa não posso ter indivíduos do seu quilate. Galo da Costa estava na mó de cima e não ficou muito preocupado com a situação. Uma grande parte daquele milhão tinha sido investida em várias empresas com ligações a familiares seus, mas sem o mínimo de capacidade de gestão, e todas acabaram por falir. O dinheiro fácil nunca é bem gerido, e o clube já estava a pagar as aventuras do seu presidente. Mas os fiéis associados pouco se importavam com essas contas. Eles não queriam saber de gestão, mas de golos, e esses não faltavam. Galo da Costa e Reginaldo Teles também sabiam disso e tinham de se organizar no sentido de garantir que esses golos e essas vitórias nunca haveriam de faltar. Para deixar a empresa onde trabalhava, Galo da Costa ainda teve que pagar sete mil contos e ficou sem carro por uns tempos. O milhão e tal de contos tinha desaparecido sem deixar rasto e tinha deixado de rastos GC, a contas com a justiça, por cheques sem cobertura e penhoras a bens pessoais. Foi um momento difícil, mas que não abateu o presidente, levando-o antes a pensar que o seu negócio era o futebol. Era nessa área que se movia como peixe na água, e a modalidade não estava a ser devidamente explorada. Todos os movimentos foram reprogramados, de forma a que o clube tivesse uma gestão capaz de alimentar o seu presidente. Reginaldo Teles acabou por subir na escala do poder no clube. O vice para o futebol foi afastado, e Reginaldo chegou-se mais ao presidente, ocupando o lugar deixado vago. A vaidade pessoal de Reginaldo levou-o a abrir mais uma casa de alternos, desta vez mais chique e refinada. As putas eram de melhor qualidade e o champanhe também. Galo da Costa não perdia um strip-tease, e quando lhe agradava, saboreava ao vivo a estrela do espectáculo. GC sentia-se cada vez mais um Al Capone à portuguesa. Sempre rodeado de guarda-costas, assumia a pose do gangster e já tratava as raparigas da forma que um dia vira num filme americano, nos seus tempos de liceu. Tinham surgido alguns escândalos e alimentava-se a desconfiança em relação à forma como os dinheiros estavam a ser geridos e distribuídos, mas aos poucos a organização refinou-se, de forma a não deixar rastos. Luigiano D´Onofrio era um gangsterzinho e foi-se apercebendo da forma pouco cuidada e pouco profissional como os assuntos eram tratados e em alguns negócios governou-se com mais dinheiro do que aquele que ficara combinado, e para anular essas fugas, Galo da Costa resolveu montar uma sociedade secreta na Suíça para que existisse um maior secretismo. Luigiano D´Onofrio era uma figura envolta em algum mistério. Tanto aparecia como, quase por artes mágicas, desaparecia, o que acontecia normalmente quando se adivinhavam maus momentos. Estas artes de prestidigitador livraram-no de muitos sarilhos, embora alguns anos mais tarde Luigiano não tivesse conseguido evitar alguns dias de detenção num calabouço suíço, por suposta ligação a um caso futebolístico que abalou o futebol francês (Olympique Marselha). GC confiava cegamente no seu amigo Luigiano. -Luigiano, vamos legalizar a nossa situação montando uma empresa de compra e venda de jogadores. No meu clube só você vende e compra todos os atletas, mas podemos estender o nosso negócio até outros clubes desde que se mantenha segredo absoluto. -Está bem , presidente, você é que manda. Um dia ainda há-se ser como o Berlusconicz. Galo da Costa não perdeu tempo. -Vamos já formar essa sociedade, porque tenho um negócio para ser feito já. Na semana seguinte já estavam os dois na Suíça para legalizarem a empresa de compra e venda de jogadores (...)”.
Continua...
Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

quarta-feira, 11 de julho de 2007

O POLVO (4ª Parte)



Continuação (Agora é que vai começar a “tourada”)

“(...) - «Reginaldo, hoje tens de ir a Setúbal entregar uma prenda para o filho do árbitro Carlos Fordes, que faz anos» - pediu, certo dia, GC.
Reginaldo Teles, sempre pronto para estas acções, lá rumou até Setúbal com um fio deouro e uma medalha gravada com o nome do filho do árbitro. Mas, quando lá chegou, não encontrou ninguém em casa. Uma vizinha, que estava na varanda a estender roupa, disse-lhe que tinham ido todos a casa da sogra festejar os anos do miúdo. Reginaldo não perdeu tempo: -Sabe dizer-me onde mora a sogra? -Mora em Lisboa – respondeu a vizinha, dando de imediato a respectiva morada. Reginaldo atravessou a Ponte e uma hora depois lá estava na casa da sogra de Carlos Fordes para entregar a respectiva prenda ao filho do árbitro. Cenas como esta sucederam-se, e todos aceitavam com agrado tamanha amabilidade. Era um gesto bonito e que ninguém podia condenar. Não estava em causa qualquer jogo ou favor, mas uma amabilidade que não era muito normal no futebol. Galo da Costa e Pidroto tinham escolhido a pessoa ideal para executar tal missão. Reginaldo Teles era bem sucedido quando espelhava a face da inocência, do desinteresse, do bom amigo. Foram dezenas e dezenas de missões como esta que deram entrada a Reginaldo Teles na intimidade dos árbitros. Depois de um gesto daqueles, era normal que convidassem Reginaldo para um brinde ou mesmo para ficar um pouco na festa familiar. Nasceram amizades e compadrios. Convites para encontros mais para o Norte e de preferência no seu bar de alternos, com mulheres e copos disponíveis. Lisa tinha tomado conta do negócio, e a sua experiência de mulher da vida muito batida ajudava a controlar e a organizar umas cenas de sexo com as miúdas escolhidas pelos árbitros que visitavam Reginaldo no seu estabelecimento. Pidroto desconfiava da situação e andava assustado com o negócio, mas a doença tomou conta dele e perdeu força, muito embora comandasse todas as operações e estabelecesse estratégias a partir do seu leito, com a cumplicidade do seu fiel adjunto Antónimo Morais. Galo da Costa não gostava da política que estava a ser adoptada e, picado por Reginaldo Teles, com quem tinha relações já muito estreitas, começou a trair o seu grande amigo Pidroto. Reginaldo sabia que o técnico não gostava muito do seu estilo nem apoiava algumas das suas acções. Queria dar dignidade ao clube, e um chulo não seria a personagem ideal para representar em diversas acções a grandiosidade do projecto que ele queria atingir. Reginaldo Teles sabia insinuar-se perante as pessoas. Começou a convidar o presidente para uns copos no seu território. GC nunca se tinha visto rodeado de tantas mulheres. Tinha uma educação de seminarista e nunca lhe passara pela cabeça trair a sua mulher, mas um dia não resistiu às investidas de uma das funcionárias do seu grande amigo Reginaldo Teles. A mulher tinha sido bem escolhida por Lisa e educada por Reginaldo. GC sentiu-se no céu, quando desceu ao leito do amor. Nunca tinha vivido experiência como aquela. Deu consigo a pensar: -Como é que foi possível andar 40 anos sem conhecer uma experiência como esta? Reginaldo tinha ganho a sua primeira batalha. O presidente ficou agarrado a ele através do amor de terceiras (e de quartas, quintas, sextas... não sendo também incomum aos sábados...). Vieram outras experiências, outras mulheres e Galo da Costa andava eufórico. Depois de Pidroto ter morrido, Reginaldo Teles passou a ser o expoente máximo de Galo da Costa, e os outros vice-presidentes do clube não andavam nada contentes com a situação. Um dos grandes amigos de GC chegou mesmo a comentar: -O GC tem uma cabeça extraordinária. O seu mal foi ter começado a ir ao pito aos 40 anos. Isto dito assim nem parece nada, mas a verdade é que a vida nocturna transformou por completo Galo da Costa, que pensou, por momentos, ter alcançado o paraíso na Terra. Reginaldo Teles tinha uma influência extraordinária sobre GC, levando-o mesmo a dizer que só confiava em Reginaldo e no seu gato. Lisa geria o «Play-Girl», o novo bar de Reginaldo, com uma eficiência extraordinária, mas não passava de uma ex-puta, ou mais propriamente de uma puta reformada, mas ainda com boa pinta. A amizade entre ela e GC tinha aumentado graças aos excelentes encontros que ela lhe ia conseguindo com as suas melhores raparigas.
A ligação de Reginaldo Teles ao futebol proporcionava-lhe bons negócios e passos gigantescos na sua ascensão na direcção do clube. A acção de charme com os árbitros evoluía cada vez mais. Os dirigentes que não aceitavam Reginaldo iam sendo afastados. Mesmo aqueles que já tinham uma amizade de longos anos com Galo da Costa. O sexo tinha tomado conta da mente do homem e não havia nada nem ninguém capaz de o fazer parar e encarar a situação de uma forma mais digna. A assiduidade de Galo da Costa era quase diária e não havia forma de alterar os hábitos adquiridos. As mulheres desfilavam pela sua mesa e ele só tinha de escolher qual queria comer e a forma como o queria fazer. Era norma ser o patrão o primeiro a experimentar as novas empregadas, mas essa função no «Play-Girl» passou a pertencer a GC. Era a porta aberta para o êxito e a ascensão de Reginaldo Teles.
O clube de Galo da Costa tinha atingido o auge tanto em termos nacionais como europeus. Era o apogeu, o delírio e o júbilo de um povo que nunca se tinha visto em tamanha aventura. GC fez esquecer o seu velho e grande amigo Pidroto, evitando qualquer comentário que pudesse recordar o velho mestre. A glória tinha de ser só sua e de mais ninguém. A cidade caiu-lhe aos pés, e foi a partir dessa altura que GC tomou consciência do poder que tinha e que Reginaldo Teles começou a alimentar a sua grande esperança de um dia vir a ser alguém no seu clube. Reginaldo tinha Galo da Costa quase na mão, através dos assíduos encontros deste último com as suas miúdas. As amantes sucediam-se e até entravam em lista de espera. GC sentia-se um Don Juan e conhecia uma vida totalmente diferente daquela a que sempre estivera habituado. O poder alimentou ainda mais a sua ambição e começaram aí as traições aos seus melhores amigos. Umas como pura defesa pessoal, outras para abrir caminho para os que iam chegando e prometiam uma maior subserviência, o que lhe dava a garantia de poder governar sozinho e principalmente sem ter de dar muitas explicações. Os títulos traziam muito dinheiro para os cofres do clube e Galo da Costa já tinha esquecido os momentos em que era apenas um vendedor de fogões, muito embora continuasse ligado à mesma firma, onde mantinha uma posição superior. Os milhares com que tinha de lidar começaram a toldar-lhe a mente e a aumentar a sua ambição. O seu clube era um grande chamariz para os grandes negócios e não faltaram oportunistas para tirar partido disso. Foi nessa altura que surgiu um empresário italiano muito ligado à venda de jogadores, mas com negócios ilícitos à mistura. Luigiano D´Onofrio já tinha jogado futebol em Portugal, e acabou por criar raízes no nosso país, mais propriamente a sul, aproveitando uma grande parte do seu tempo para entrar nas redes ligadas ao tráfico de droga... e era mesmo vital aquele ponto geográfico para o negócio!
Luigiano D´Onofrio, um indivíduo baixo, magro e com cara de rato, de nariz afilado mais parecendo um bico, apareceu pela mão de Reginaldo Teles e recebeu a bênção de GC. Luigiano D´Onofrio era um empresário sem escrúpulos e com alguns mandatos de captura em diversos países europeus, precisamente por tráfico de droga, mas foi acolhido como uma pessoa de grande interesse para o clube. Galo da Costa foi quem mais lucrou com a sua vinda. Os jogadores do seu clube inflacionaram-se no mercado europeu, e Luigiano D´Onofrio viu ali um grande negócio para si e para GC. Em todos os jogadores que fossem negociados para o clube ou que saíssem dele, o presidente teria sempre a sua percentagem, desde que mais ninguém interferisse no negócio. Após o recebimento das primeiras comissões Galo da Costa via-se rodeado por dois elementos ligados ao mundo do crime. Não era segredo para ninguém que Luigiano D´Onofrio tinha ligações com a Mafia italiana e que Reginaldo mais alguns familiares viveram sempre de habilidades e negócios marginais, negócios centralizados na prostituição e na receptação de objectos roubados. «Pena é que estes ramos não estejam inscritos nos fundos comunitários», costumava dizer Reginaldo, que um dia ficou deliciado quando em Amesterdão viu umas garinas expostas em montras. Por um só momento, Reginaldo viu a rua de Santa Catarina transformada um gigantesco bordel, imaginando situações do tipo «leve três e pague duas» ou «pague o seu bacanal em dez suaves prestações». Mas era sonhar muito alto.
Foi este tipo de gente que fez engolir em seco muitas pessoas honestas e com dignidade que estavam ligadas ao clube. Alguns protestaram, defenderam a ideia de que o clube tinha de ser gerido com mais transparência e acabaram por ser afastados. Como aconteceu com Adalberto Magalhães, reputadíssimo empresário. GC, cada vez mais lá no alto, qual Deus do Olimpo, qual César à frente das legiões, não dava tréguas: -Aqui quem manda sou eu, e quem não estiver bem que se afaste! O clube vivia momentos conturbados em termos directivos, mas os resultados desportivos eram óptimos. Consequentemente, Reginaldo Teles ia subindo na hierarquia do clube. Já tinha subido de chefe de segurança a chefe de departamento de futebol, uma ascensão que deixou muita gente de boca aberta, mas que foi aceite sem grande contestação, pois nessa altura já Reginaldo tinha todo o seu staff de segurança organizado. Reuniu alguns dos maiores rufias da cidade, alguns dos seus conhecidos dos negócios marginais e de prostituição, e impôs um cordão de silêncio tanto a jornalistas como a dirigentes. Quem contestasse ou denunciasse algo que não convinha, recebia a visita de um desses marginais e ficava sem vontade de dizer mais nada, subordinando-se ao silêncio e à aceitação dos factos. Nem os sócios conseguiam fugir a esta perseguição (...)".
Continua...
Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

terça-feira, 10 de julho de 2007

O POLVO (3ª Parte)



Continuação

”(...) Galo da Costa tinha conseguido realizar o seu sonho, levando como trunfo o seu grande amigo e companheiro de luta Pidroto, o técnico que tinha conseguido o título para o seu clube. Firmando Gomes, o ponta de lança mais cobiçado, tinha sido emprestado a um clube espanhol e serviu de bandeira para ajudar à vitória. Também ele regressou. Mas Antónimo Oliveira, o ex-capitão que nunca se deixou dominar pelos desígnios de Américas de Sá, recusando-se terminantemente a regressar ao clube, passou por momentos bem difíceis.
Não de ordem económica, mas psicológica. Tinham-lhe sido vedadas todas as entradas numa equipa que estivesse ao seu nível. Foi marginalizado e refugiou-se num grupo de amigos, não recebendo a ajuda de ninguém, mesmo de Galo da Costa, pelo qual deu a cara. Antónimo Oliveira era uma vedeta do nosso futebol, uma estrela, um génio, e não podia ser esquecido. Foram meses de desespero. Foi sair da ribalta para o anonimato, mas nada vergou a personalidade deste jogador. Ficou sozinho, mas manteve a classe que sempre foi a sua imagem de marca. Sem clube e sem a mínima vontade de treinar, refugiou-se no ambiente nocturno tão ao seu gosto. Copos e mulheres eram a alma que mantinha de pé a forte estrutura psíquica do «Caddilaque» - apelido que carinhosamente lhe fora colocado pelos amigos mais chegados. Eram bacanais atrás de bacanais devidamente organizados no seu apartamento. Por aquele espaço passaram os melhores ballets de inglesas que actuavam nos casinos nortenhos, as melhores «strip-teasers», as habituais frequentadoras das discotecas e também «travestis» que satisfaziam as delícias de algumas convidadas lésbicas e bissexuais. Sexo em grupo era o prato forte. Após alguns meses de paragem, Antónimo Oliveira resolveu voltar à actividade, mas antes, na companhia de alguns amigos foi passar uns dias a Bordéus, onde esteve a ajudar na vindima. E só no seu regresso, com um visual totalmente novo, de cabelo encaracolado e sem bigode, aceitou um convite do clube da sua terra natal (Penafiel). Tinha uma equipa modesta, mas como era treinador-jogador, abria uma actividade totalmente nova no nosso futebol, revolucionando o sistema e isso teria sempre um enorme impacto mediático. Era a demonstração cabal de que Antónimo era, de facto um homem inteligente, que sabia estar e conhecia o terreno que pisava. A sua estrela voltava a brilhar e de tal forma que logo foi cobiçado por um grande clube da capital. Antónimo não sabia viver sem a companhia do seu irmão, o Joaquinas Oliveira. Foram sempre muito chegados. O Joaquinas Oliveira tinha uma discoteca de alternos e rivalizava com Reginaldo Teles. O seu mundo eram as putas, tal como Reginaldo, de quem diferia muito em termos de personalidade e carácter. Reignaldo era um valentão. Joaquinas Oliveira era pacífico e não era chulo, muito pelo contrário: chamavam-lhe«andor» porque gostava de se rodear de putas e pagar tudo. Todas as noites promovia ceias com dançarinas e também com algumas miúdas ligadas aos alternos. Levava sempre consigo amigos para se querer impor e provar que também era alguém. O negócio não dava para tudo, e vieram as dificuldades. As dívidas aumentaram e, com a ida do seu irmão para um clube da capital (Sporting) tudo piorava. Vieram as penhoras. E logo que Antónimo Oliveira se impôs no seu novo clube, tratou de arranjarum negócio para o seu irmão, uma queijaria nas imediações do estádio, onde era normal alguns jornalistas abastecerem-se sem pagar ou apenas por um preço simbólico (mantinha-se assim a tradição de «pato»). O irmão, pelo seu lado tinha-se assumido novamente como jogador-treinador e, com a ajuda do seu novo presidente, resolveu abrir uma agência de contratações de jogadores. A sua missão era contratar jogadores não só para o clube do seu primo, mas também para os outros. Foi criada a Olivedesportivos. Mas Joaquinas Oliveira não estava talhado para esta missão cuja actividade em Portugal ainda era muito pouco reconhecida. A fuga acabou por surgir através de um sistema de publicidade montado nos estádios, explorando os painéis. Antónimo e o seu irmão Joaquinas continuavam de boas relações com Galo da Costa, mas este, quando foi eleito presidente, resolveu encetar uma pequena guerra com Jonas Rocha, ex-emigrante nos Estados Unidos e presidente do clube onde Antónimo estava a jogar e a treinar (Sporting). As relações entre ambos esfriaram até à altura em que Galo da Costa resolveu tentar trazer novamente o Antónimo para o seu clube, mas o jogador manteve sempre um comportamento de grande responsabilidade. Para além de alguns defeitos, tinha uma grande virtude: nunca esquecia os seus amigos. Jonas Rocha fora o homem que lhe dera uma nova oportunidade para voltar ao top do futebol português, que o ajudou a montar a agência de publicidade para o seu irmão num momento difícil para ambos, e Antónimo não podia de forma alguma esquecer tudo isso. Recusou o convite, mas Galo da Costa não perdoou.
A guerra estabeleceu-se entre ambos até ao ódio e continuou até muito depois de Antónimo ter abandonado o clube da capital e optado pela actividade de treinador. Antónimo e o seu irmão nem queriam ouvir falar em Galo da Costa. «Dá comichão só de pensar nele», dizia um deles, o mais novo, mas claramente o mais esperto. A guerra entre os dois clubes e os respectivos presidentes foi aumentando. Galo da Costa tinha feito com que o seu clube voltasse às vitórias e aos títulos e, como sempre foi amante de uma guerrinha, mantinha a sua bem acesa com Jonas Rocha. A estratégia era de Pidroto: -No Norte só há um clube com força e na capital há dois, por isso só há uma forma de os poder dividir e lutarmos contra eles. Temos de estar sempre bem com um e abrir guerra ao outro. Galo da Costa absorveu a filosofia do «mestre» e acrescentou: - Tens toda a razão e até podemos alternar essa guerra, abrindo fogo sempre sobre o clube que estiver em melhores condições para poder lutar pelo título. Frustrada a tentativa de levar para o seu clube o Antónimo e em resposta a Jonas Rocha por este ter ripostado com a contratação de dois jogadores da sua equipa, Galo da Costa numa acção relâmpago contratou um miúdo que na altura estava a dar nas vistas no clube do seu inimigo Jonas Rocha. Nessa altura, estava longe de imaginar que seria aquele jogador que iria dar início ao seu grande golpe de estádio. O miúdo morava no Montijo e era anunciado como um craque de eleição. Mas o clube de Jonas Rocha abriu a guarda e, numa noite de lua cheia, um funcionário do clube rival do Norte acelerou no seu Renault até ao Montijo, não se esqueceu de comprar no caminho um pão-de-ló em Rio Maior para oferecer à família do rapaz e trouxe-o para a «Invicta», onde o craque se manteve como que sequestrado durante alguns dias. «É o Eusébio branco», dizia-se, se calhar com alguma legitimidade. O craque era conhecido pelo nome de guerra de Frutras. Entretanto, Reginaldo Teles, depois de ter abandonado Américas de Sá, mesmo antes de este ter perdido as eleições, insinuou-se perante GC e, como este ainda não se tinha esquecido da dimensão das dificuldades que lhe foram criadas pelo rapazinho que era treinador de boxe do seu clube, achou por bem abrir-lhe a porta e oferecer-lhe o lugar de chefe da segurança. Reginaldo Teles, consta, mandou abrir duas garrafas de champanhe «Moelas & Cabron», marca que o Fucinha, um dos seus empregados, não conseguiu encontrar no mercado, mas no fim ninguém reparava que era apenas «Raposeira» o néctar que estrondeava. Pidroto nunca esteve muito de acordo com essa acção. Era um indivíduo seguro, competente e com grande personalidade e não gostava muito, nem sequer apoiava, acções de violência ou de alguma forma marginais. Lutava por aquilo em que acreditava e tecia estratégias para a sua luta, contestando, vociferando e acusando de uma forma directa. Tornou-se polémico, irreverente e estabeleceu uma acção de combate virada essencialmente para a arbitragem, cujo controlo partia da capital. Por isso, contratou para a sua equipa um ex-jornalista (Luís Cessar) com a mania das estatísticas, e a sua primeira missão foi a de elaborar um ficheiro de todos os árbitros da 1ª categoria, contendo o maior número de informações. Nome, morada, actividade extra, número de filhos e datas de nascimento de toda a gente do agregado familiar. Como era contra a violência, e Galo da Costa não se cansava de gabar os dotes de Reginaldo Teles, Pidroto pediu ao presidente para lhe entregar a missão de ir a casa dos árbitros no dia do aniversário destes ou de um dos seus familiares para entregar uma pequena lembrança, independentemente do facto de esse árbitro ter ou não ter apitado qualquer jogo do clube. Era o início de uma operação de charme que resultaria em pleno (...)”.
Continua...
No próximo capítulo é que isto vai começar a aquecer a sério!
Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

O POLVO (2ª Parte)



Continuação
”(...) Reginaldo Teles era um ás a esgrimir os punhos, sabia avaliar com grande exactidão a capacidade dos seus adversários, e quando não os podia vencer trazia-os para junto de si. Um anjo, este rapaz que veio bastante jovem de uma aldeia transmontana para servir numa tasca de um tio. O estabelecimento estava aberto toda a noite, numa altura em que ainda existiam poucas discotecas. E as que funcionavam em pleno estavam viradas para o alterno e a prostituição. Mas Reginaldo Teles sabia que «putas e vinho verde» só combinam nas horas e nos locais certos. Havia que tratar da vidinha. Ajudava o seu tio pela madrugada dentro e vivia com entusiasmo as cenas de pancadaria entre azeiteiros, putas e marginais. O seu sonho era um dia vir a ser como eles. Homens valentes, com charme, e mulheres tratadas a pontapé a levarem-lhes o apuro da noite e o que até tinham roubado ao prazer. Sobre as delícias do amor, Reginaldo propagandeava dotes extraordinários, como fruto da leitura de um livrinho que comprara na Feira de Vandoma, uma obra cujo título tinha algo a ver com cama(obviamente) e que ensinava a combinar o beijo inclinado com o beijo pressionado. Essa era a matéria que Reginaldo dominava perfeitamente, como já se disse, com destaque para a arte de beijar.
Mas ainda estava longe de ser o rei na noite, sendo por norma acordado por mais um pedido da Bety ou da Lady, pois as putas por aqueles lados tinham todas nomes ingleses...- Ó miúdo, serve-me aí uma sande de fígado com molho e cebola e um copo desse verde rasca que o teu tio tem aí! Reginaldo Teles não se deixava comover. Afinal, eram putas. Tinham de ser tratadas assim. Enrugando a face, com os cantos da boca a quebrarem para baixo, fazia inchar o peito, punha-se em bicos de pés na tentativa de imitar os chulos e atirava com o prato da sande e o copo para a frente da mulher enquanto pensava: «Ainda vais trabalhar para mim». Foi então que um indivíduo com cara de rato, esquelético e de cabelo oleoso, se foi encostando à prostituta que Reginaldo servia e, com uma habilidade nata, meteu os garfos na carteira e roubou-lhe o porta-moedas. Reginaldo, que estava por detrás do balcão a retirar da montra de vidro um naco de polvo envolto em cebola, viu a cena e não perdeu a sua oportunidade de brilhar. Saiu do balcão e, com determinação, agarrou o carteirista e evitou que a Aljazira, mais conhecida por Lady, ficasse sem os poucos tostões que o seu chulo lhe deixou. Apercebendo-se de toda a cena, a Aljazira levantou a mão e deu um soco no carteirista enquanto lhe dizia: -Ah, meu filho da puta de choringa! Sem tempo para pensar, Reginaldo Teles nem sequer hesitou quando se apercebeu que o carteirista ia responder à agressão. Formando um salto, deu uma cabeçada seguida de uma esquerda no choringa e este esparramou-se no chão sem vontade de se levantar. Quando o pôde fazer, nem sequer olhou para trás, deitando a fugir pela rua abaixo. Os presentes fartaram-se de gabar Reginaldo, não só pela sua coragem como também por aquela esquerda indomável. A Aljazira esqueceu-se de que tinha sido vítima de roubo e começou a medir o miúdo de alto a baixo com um sorriso comprometedor e, olhando por cima do ombro, disse-lhe quase num sussurro: -Hoje tens direito a uma de graça! -Com direito a beijo pressionado?- quis logo saber Reginaldo. Que sim, disse ela. Reginaldo Teles não cabia em si. Puxou do pente que trazia no bolso de trás das calças, passou-o pelos cabelos e não deixou ninguém perceber que ainda era virgem. Pegou no resto do vinho que sobrou no copo da Aljazira e emborcou-o de uma golada enquanto lhe dizia: -Estou-te com uma sede! Quando fechou a tasca, lá estava a Lady à sua espera para uma madrugada de amor. Mas estava, ainda, Reginaldo com a chave metida na porta, e já o chulo da Aljazira lhe tocava no ombro. -Onde pensas que vais meu filho. O estabelecimento já fechou. Se queres desenferrujar o prego, espera para amanhã e não te esqueças de trazer trocado. Reginaldo Teles ficou fora de si. Já estava a pensar com os tomates, e aquele gajo não lhe podia vir estragar a festa. Olhou de alto a baixo o chulo. Fixou-o bem nos olhos e achou que lhe podia dar uma tareia. A sua célebre esquerda saltou como um gancho e abateu-se nos queixos do chulo. Ainda este não se tinha recomposto e já levava um meia dúzia de socos, caindo KO no passeio. Numa só noite, Reginaldo tinha abatido dois adversários. Aljazira não hesitou. Estava cheia daquele chulo, e Reginaldo seria o seu novo amante. Meteu-lhe o braço e, com firmeza, levou-o até ao seu quarto alugado, por trás da Igreja da Trindade. Por coincidência ou não, os sinos tocaram a assinalar as cinco da matina e uma gata berrou de cio. Reginaldo estava eufórico e, depois de ter descascado em dois duros da noite, não podia de forma alguma deixar perceber que aquela era a sua primeira noite de amor. As suas calças de bombazina preta começaram a ser afagadas por Aljazira enquanto ela se despia. Ao ver o seu par de mamas, Reginaldo não se aguentou mais e teve uma ejaculação. Lady sentiu as calças humedecidas. -Já te vieste? Reginaldo, sem mostrar atrapalhação por aquele percalço, ensaiou uma vez mais a pose de durão.
-Isto é só uma amostra. Vê se te preparas depressa. E em que pressinha se foi a virgindade de Reginaldo Teles. Aljazira ficou encantada com toda aquela fogosidade e, mostrando-se submissa, pediu com um certo carinho: -A partir de hoje vais ser o meu chulo? Reginaldo sorriu, enquanto puxava as calças para a cintura e apertava o cinto. -Depois da sova que dei ao teu chulo, achas que ele teria coragem de aparecer? O teu homem a partir de hoje, claro que sou eu. Mas para que essa conquista ganhasse forma, havia muitas lutas para vencer. Os pretendentes faziam fila porque o negócio estava mau e havia de aparecer um valentão a conquistar os seus direitos da mesma forma que o fez Reginaldo. Aljazira gostava do miúdo, era forte e atrevido, mas para ficar com ele tinha de pensar numa forma de o proteger. Reginaldo tinha punhos, mas faltava-lhe a experiência. De súbito, veio a solução. Ela tinha um cliente que era treinador de boxe do maior clube da cidade (do Porto) e ia-lhe apresentar Reginaldo Teles para o rapaz poder ir lá fazer uns treinos. Uma semana depois, o tal treinador de boxe disse a Aljazira que Reginaldo tinha futuro. A partir daí, quando as coisas aqueciam no «Ginginha», a tasca do seu tio, Reginaldo Teles fazia uns treinos extra, passando a ser conhecido e respeitado. Depois de fechar a tasca, aproveitava a boleia de um amigo e ia ter com a Aljazira, que atacava em Santos Pousada. Trazia o apuro e a rapariga. Os dois estavam apaixonados. O beijo pressionado passava à história. Reginaldo começou a somar êxitos no boxe e acabou por deixar o emprego na tasca do seu tio para se colocar como segurança e porteiro numa casa de alternos. Foi aí que conheceu a Lisa. Mas um dia, Aljazira descobriu tudo, entrou pela boite dentro, localizou a Lisa, que bebia uma garrafa de champanhe com um cliente enquanto este a beijava no pescoço, pegou-lhe pelos cabelos, atirou-a por cima da mesa e armou por ali uma algazarra tremenda. Reginaldo Teles tentou acalmar as coisas. Não podia perder o emprego e lá convenceu Aljazira a ir-se embora, não sem antes esta prometer que matava a Lisa se ela continuasse atrás do homem dela. Reginaldo Teles tinha-se tornado num dos chulos mais importantes da cidade e, com a ajuda da Lisa, acabou por comprar o seu próprio estabelecimento. O rapaz tinha jeito para o negócio, e a Lisa tinha uma perspicácia tremenda para escolher as melhores putas. Ambicioso, inteligente, hipócrita e já com algum poder económico, Reginaldo Teles tinha apenas mais um sonho: ser campeão nacional de boxe. Ele era bom de punhos, mas havia outros melhores. Com algum sacrifício e habilidade, conseguiu chegar à fase que lhe permitiu disputar o título. O seu adversário era poderoso e Reginaldo Teles não se podia arriscar a deixar fugir o seu sonho. Sempre inclinado para negócios marginais, colocou logo em prática um plano diabólico. Ele sabia que no boxe profissional a corrupção por parte de grupos marginais era uma prática constante e quase normalizada, e num ápice resolveu o seu problema. Contactou o seu adversário, negociou a vitória no terceiro "round" e um KO mal disfarçado deu-lhe a oportunidade de saltar no ringue elevando as luvas em sinal de vitória. Era importante para o seu negócio que os jornais noticiassem no dia seguinte que ele era o novo campeão nacional de boxe. Aquele título significava respeito e medo. Os factores mais importantes para quem quer gerir com tranquilidade uma casa de alternos e de prostituição. Este fora o seu primeiro acto no mundo da corrupção, e Reginaldo Teles ficou fascinado com o poder do dinheiro. Afinal, ele tinha feito um investimento altamente rentável. Pagou para conquistar o título, realizou o seu sonho e duplicou a facturação no seu estabelecimento. Ninguém se arriscava a criar conflitos na sua área de alternos e muito menos a deixar contas penduradas. Os punhos de um campeão eram sempre temidos.
Aproximavam-se novas eleições e Galo da Costa ia ganhando terreno. O treinador Austríaco (Hermann Stessl) que fora convidado para tomar conta do seu clube sob a gerência de Américas de Sá não estava a dar conta do recado. Os sócios habituaram-se aos títulos e queriam mais, mas a bola teimava em não entrar na baliza. Enquanto isso, GC esfregava as mãos e preparava a sua candidatura. Os apoios eram cada vez mais fortes, e uma nova estratégia foi colocada em movimento. Ele tinha de apostar forte na vitória eleitoral e, aproveitando os maus resultados da equipa, organizou por todas as freguesias da cidade sessões de esclarecimento com uma programação meticulosa. Iniciava-se, assim, a «Operação Ácido Sulfúrico», cuja alternativa, em caso de falhanço, tinha o nome de código de «Operação Cicuta». Na organização dos seus comícios, GC deu sempre preferência aos bairros pobres e à parte velha da cidade. Era aí que estava o povo e a força do clube. GC organizou o seu staff comandando um grupo de associados aos quais impôs serem eles a obrigarem-no a partir para uma candidatura. Desenvolveu-se então o célebre grupo dos 500, do qual saíram elementos devidamente comandados que se distribuíam pelos cantos das salas onde eram organizadas as tais sessões de esclarecimento. A missão deles era empolgar as sessões e fazer perguntas previamente combinadas com Galo da Costa. Numa dessas noites, na Associação Recreativa de Miragaia, foi assim: -Presidente, qual é o principal inimigo do clube? -Antes de mais, repito, ainda não presidente...Gargalhada geral, e GC tomou as rédeas à sala, não evitando porém a queda de estuque sobre o novo casaco, -O principal inimigo está dentro do clube, o servilismo a Lisboa. Estamos fartos de ser espoliados. Chegou a hora de dizer «basta». Com uma cajadada, GC matava dois coelhos. Para além do mais, o discurso saía-lhe cada vez mais com mais facilidade e tudo era acompanhado, comentado e analisado pela imprensa desportiva e jornais diários. A cidade e Américas de Sá viviam sob o fogo cerrado de Galo da Costa. O presidente já não podia sair à rua sozinho, e as assembleias gerais eram cada vez mais escaldantes, levando mesmo o doutor Américas de Sá ao desespero e a chorar em público. Foi nessa altura que Reginaldo Teles teve o seu papel mais importante. Organizou um grupo de guarda-costas recrutados nos quadros da secção deboxe do clube que, com alguns rufias nocturnos à mistura, organizou alguns ataques a jornalistas que de uma forma ou outra denunciavam a protecção a Galo da Costa. Evidenciando alguma inteligência e revelando o seu carácter de hipócrita, Reginaldo Teles verificou que a derrota de Américas de Sá era mais que evidente, e assim se foi distanciando da protecção que prometera ao seu presidente. Algumas figuras notáveis da cidade aliaram-se a Galo da Costa e, no momento das eleições, a derrota foi fatal para Américas de Sá (...)”.
Continua...
Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

domingo, 8 de julho de 2007

O POLVO (1ª Parte)



O Amo-te Benfica vai revelar a partir de hoje e durante os próximos dias, os episódios que marcaram a ascensão da Máfia sobre futebol português e todos os seus meandros.


“ (...) Galo da Costa assumiu a derrota, mas não a digeriu. Parecia perdido para o futebol. A sua atitude revolucionária tinha deixado marcas bastante profundas. O seu futuro como dirigente estava severamente comprometido, mas Galo da Costa sempre acreditou que no futebol é o golo que comanda as atitudes e as situações e que provoca a queda dos dirigentes e treinadores. Por isso, GC não se deixava abater com tanta facilidade. A sua resistência não tinha limites e afinal só tinha perdido uma batalha. O importante, agora, era fazer com que o seu clube tivesse alguns desaires. Tinha, por isso, de montar a sua estratégia, mesmo sem os seus anteriores aliados. Os seus companheiros, os da tentativa de revolução, colocaram-se à margem para se aliarem a quem ficou com o poder, e os profissionais seguiriam o seu rumo, a sua vida era aquela; e, mais tarde ou mais cedo, acabariam por surgir novos empregos. Eram artistas do futebol, tinham mérito e qualidade. O seu caso era mais difícil. Era um dirigente com algum carisma ganho à custa do prestígio de Pidroto. A sua personalidade e capacidade ainda não tinham sido verdadeiramente testadas. Faltava-lhe prestígio para fazer frente a Américas de Sá. E não podia continuar a vender fogões toda a vida... Sem abandonar os bastidores do futebol, foi minando a gerência de Américas de Sá. Não era homem para ser derrotado com tanta facilidade, mas em alguns momentos chegou mesmo a sentir o desespero de uma causa que parecia perdida. Mestre a colocar o boato a circular, fez constar que um clube da capital lhe tinha dirigido o convite para assumir o comando do departamento de futebol. O objectivo era deixar passar a mensagem de que o inimigo tinha visto nele superiores qualidades e, perante tal facto, esperar que algumas vozes se levantassem, reconhecendo o erro que tinham cometido. Mas acabou por acontecer o contrário. A credibilidade de Galo da Costa em relação às posições que tomou em defesa do Norte foi afectada. Apercebendo-se de que a sua estratégia não resultara, logo se apressou a desmentir o boato posto por ele a circular. As eleições estavam próximas e era necessário estabelecer um plano mais sólido para derrotar Américas de Sá. Não era homem para viver sob o domínio da derrota ou mudar de atitude procurando novamente as boas graças do presidente. Na sua personalidade e forma de estar não encaixava a imagem de um falhado. Galo da Costa passou a sua idade escolar num colégio onde imperava uma grande influência da religião católica e quando atingiu o liceu foi internado num colégio de padres. Dos mais prestigiados do Norte do País. Ali fabricavam-se verdadeiros homens. Eram testados como cobaias para poderem enfrentar no futuro as mais adversas contrariedades da vida. Uma das disciplinas era constituída pela defesa individual de cada aluno perante toda a turma e, já nessa altura Galo da Costa era tido como o mais desenvolto no uso do discurso, na sua capacidade de raciocínio rápido e retenção na memória de dados essenciais. Inteligente e astuto como um verdadeiro jesuíta, bem cedo começou a demonstrar um grande sentido de chefia. Sabia como dividir para reinar, utilizando um ar cândido e descomprometido quando algumas atitudes de má-fé lhe eram dirigidas. Atirava a pedra e sabia como esconder a mão. Mas a sua verdadeira arma era a grande capacidade de trabalho e a completa dedicação a tudo o que fazia. Chegou a pensar ordenar-se padre, e o director do colégio apostava que, se ele seguisse essa carreira, iríamos ter o segundo papa português. A sua postura, a sua forma de falar e de estar deram-lhe sempre um toque clerical. A mesma mão que abençoava os amigos, empunhava a cruz onde ele havia de crucificá-los. Cativava, fazia amizades com facilidade e sabia como as utilizar e destruir como se nunca tivesse culpa de nada. Nunca foi grande atleta, mas a sua paixão pelo desporto atirou-o para o dirigismo. Começou por baixo, mas não foi necessário muito tempo para chegar ao topo da pirâmide. Destronar Américas de Sá era agora o seu maior desafio. Começou então a rodear-se de amigos com algum prestígio no clube, procurando apoios para se candidatar. Tarefa que não era fácil. Na altura, para se ser presidente de um clube de futebol era necessário ser-se um empresário de sucesso e ter dinheiro disponível para enfrentar algumas situações, e esse não era o caso de Galo da Costa. Ele sabia-o como ninguém e procurou então apoiar-se em pessoas abastadas economicamente, não dispensando o seu grande amigo, Ilídio Pintas. Havia, no entanto, uma situação que era necessário ultrapassar. O Ilídio tinha-se encostado ao Américas de Sá, mas GC sabia que ele estaria sempre do lado de quem tivesse o poder e, com alguma facilidade, jogava sempre com um pau de dois bicos. O certo é que Ilídio tinha o dinheiro, e GC iria necessitar desse apoio. Tinha também na mão outra gente que vivia desafogadamente em termos financeiros e que por terem sido preteridos por Américas de Sá se colocaram do seu lado, mas esses eram mais inteligentes e não seria fácil arrancar-lhes o dinheiro sem lhes dar nada em troca. Não podia também colocar em risco uma nova derrota. Tinha de ir à luta pela certa, e o momento era propício porque se começava a notar um certa instabilidade no seio do clube. Tudo servia para se atacar a gerência de Américas de Sá. Faziam-se assembleias gerais agitadíssimas, com Galo da Costa a colocar algumas pessoas estrategicamente no meio dos sócios a criar a confusão. Américas de Sá passou momentos de grande desespero, porque lhe era impossível controlar a situação. Foi então que tomou consciência da existência de um jovem com alguma história no clube. Reginaldo Teles, campeão nacional de boxe e na altura treinador, foi a solução encontrada para controlar as agitadas assembleias gerais. Ex-pugilista, brigão, chulo e nutrindo uma certa paixão por negócios ilícitos, ofereceu-se para arrumar a casa e impor a ordem nas confusões programadas por Galo da Costa. Era treinador de boxe do clube e reuniu os seus rapazes para patrulharem a sala, e o certo é que com alguns murros e cabeçadas acabou por conquistar o lugar de chefe da segurança de Américas de Sá. Galo da Costa temia-o, porque não era um brigão vulgar e muito menos um marginal estúpido e incompetente. Reginaldo Teles tinha um espírito e uma personalidade muito idênticos aos de GC. Dava as ordens para descascar à fartazana e depois surgia como o apaziguador, o bom rapaz que nada tinha a ver com aquela violência. GC detestava-o, mas viu nele a solução para o futuro (...)”.
Continua...

Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Arranque da época 2007/2008

Os elementos que irão compor o plantel do Benfica na temporada 2007/08 apresentaram-se hoje ao trabalho, sendo a manhã reservada a exames médicos. O primeiro treino da época terá início às 18h15. Treino esse que será o único ao qual os adeptos benfiquistas poderão assistir, por isso aproveitem!
Entre os elementos presentes nesta manhã de trabalho, destaque para as caras novas: Zoro, Bergessio e Sretenovic, além dos juniores Yu Dabao, Miguel Vítor e Romeu Ribeiro e do regressado Manuel Fernandes. Ausentes estiveram Cardozo (integra a selecção do Paraguai na Copa América), Fábio Coentrão e David Luiz (representam as respectivas selecções de Sub-20 no Mundial da categoria), Léo e Katsouranis (devido a motivos pessoais), bem como Karagounis, que sairá muito provavelmente do clube.

Foi também o dia da apresentação dos novos equipamentos do Benfica:


Para aqueles que estavam à espera do equipamento para mandar umas boquitas, aqui vos deixo um presentinho do nosso Ricardo Araújo Pereira (tirar o som ao clipe de música, que se encontra no canto superior direito da página):



Eu também vou vestir o rosa, são lindos ambos os equipamentos!

Para terminar, uma notícia que não espanta ninguém.